21 de julho de 2010

Gratidão


Esse texto foi postado aqui, no dia 16/02, e hoje resolvi postá-lo novamente. Por que? Porque hoje, essa doce mulher descrita no texto, e que não se encontra mais entre nós faria 85 anos. Ontem por uma grande coincidência, a pequena Bia me fez perguntas sobre os bisavós maternos e paternos, demonstrando curiosidade por aqueles que não estão mais entre nós mas que fazem parte de sua história, que são sua família e culminou com uma pergunta que encheu meus olhos de lágrimas: Mãe, eu queria muito ter conhecido a Balbina! E entre perguntas e respostas, entre lágrimas e sorrisos, eu disse que a ela também teria tido imensa alegria se a conhecesse. Ela nos deixou em agosto de 2001 e em outubro do mesmo ano, eu engravidei.

A Balbina não era parente de sangue, não era avô, nem mãe, mas ocupou um lugar em minha vida, além de qualquer laço estabelecido pelo parentesco. Ela era sim, minha mãe, minha avô, meu anjo pretinho igual jabuticaba. E como eu a amava. Hoje, falo de uma saudade guardada, mas que me faz feliz por ter podido conhecer e compatilhar momentos tão importante da minha vida com essa mulher maravilhosa!

Essa é a história de uma mulher que dedicou sua vida a uma família que não era a sua e que foi mãe e avó de filhos e netos que nunca teve.

Voltaremos ao ano de 1925, em Cordeiro, interior do Rio de Janeiro. Foi lá, que ela nasceu.

Sua família era muito humilde e juntavam-se a ela mais quatro irmãos. O pai e a mãe trabalhavam, na roça e era lá que desde pequenos, as crianças brincavam e ajudavam.

Essa menina virou moça. A cor de sua pele era da cor de café, de cabelos e olhos bem pretinhos (olhos de jabuticaba). Arrancava suspiros por onde passava.

Tivera um grande amor, eu soubera muito muito tempo depois, porém se decepcionara tanto que não mais se apaixonou.

Estava agora com 18 anos e não sabia ler nem escrever, sim, era analfabeta. Nem seu nome sabia assinar era preciso, sempre, apresentar o polegar.

Veio para o Rio de Janeiro trabalhar para a família Coelho Guimarães. Chegando lá se deparou com duas crianças: um menino de três anos e uma menina de um ano.

Cuidou, criou, cozinhou, brincou, educou, banhou e arrumou essas duas crianças como se filhos seus fossem.

Os anos passaram. A pequena menina estava prestes a se casar. Ela e o noivo decidiram morar com os pais dela e com essa mulher que a essa altura já estava com 44 anos.

Mais alguns anos se passaram e a história se repetiu. A menina casou, engravidou e duas crianças gerou - uma menina e um menino. E o anjo disfarçado de gente mais uma vez, cuidou, criou, cozinhou, brincou, educou, banhou e arrumou.

Quem não a conhecia podia achar que vivia de mau humor, pois carregava uma expressão carrancuda e aí de quem a contrariasse. Era um Deus nos acuda! No entanto, tamanho era o amor que trasbordava de seu coração que os mais próximos faziam de conta que não viam sua expressão.

Tinha uma maneira bem peculiar de demonstrar carinho e consideração e isso acontecia através de seu fogão. Era cozinheira de mão cheia e sua cozinha era seu reino e seus súditos, o batalhão que sempre aparecia para o almoço nos finais de semana. Eita família pra gostar de casa cheia. E lá ia ela preparar a refeição. Dos seus súditos esperava apenas uma retribuição: tinha que ter repetição e aí de quem comesse apenas uma porção.

Era tão senhora de si que um belo dia, a família descobriu uma confusão. Ela não usava o nome da certidão. Como assim, perguntaram todos? E ela respondeu: - “Apenas não gosto não.”

Quando a moeda mudou para o Real, a família pensou: “agora lascou”, mas que nada, de boba ela não tinha nada não. A família apresentou nota por nota, moeda por moeda cada uma com seu valor e ela rapidinho aprendeu mais essa lição.

Muitos verões, outonos, invernos e primaveras se passaram e agora, chegamos ao ano de 2001.

Depois de tantas estações, a idade começou a pesar. Era difícil levá-la ao médico, pois sempre achava que não tinha nada. Depois de muita insistência finalmente uma consulta se fez. Exame pra cá, exame pra lá e a constatação: seu organismo não estava nada bom.

Ela foi cuidada com muito carinho, amor e dedicação. A primeira e a segunda menina, mãe e filha, cuidaram dela como filha e neta, incessantemente, durante seis meses. Nesse tempo, a saúde complicou e o anjo quase não andava e não falava, porém era realmente especial, seus olhos de um preto vivo e profundo davam o recado com eloqüência.

Em um domingo, de Agosto, às 18h (o horário não poderia ter sido mais adequado para um anjo), ela já cansada decidiu que era chegada a hora de fazer aquela tão inquietante e longa viagem. Apenas fechou seus olhos e partiu.

Para a segunda pequena menina deixou de herança: a devoção por Nossa Senhora Aparecida, o amor pelo Salgueiro (escola do coração), o exigente paladar e o amor pelo fogão.

E a certeza que “os Anjos nunca nos abandonam, mesmo quando cometemos algumas falhas. Eles ficam aguardando uma oportunidade, uma fresta de luz em nossos corações para orientar-nos.”

Se você sentir um arrepio inesperado, alegre-se, pois foi a brisa do seu anjo que acabou de passar

25 comentários:

Fernanda Ribeiro disse...

Balbina! Lindo texto amiga. Melhor bolo de chocolate!

Isadora disse...

É amiga, só os muito próximos poderiam saber sobre quem falo no texto. Uma pequena homenagem a quem deu muito de si.

ELIANA-Coisas Boas da Vida disse...

Linda história o amor supera tudo!
Balbina com certeza foi muito feliz e fez feliz outras pessoas!

Manuela Freitas disse...

Olá querida Amiga,
Gostei muito de conhecer Balbina, essa vivência de um tão grande amor, também eu gostaria de ter uma Balbina na minha vida!...
Beijinhos,
Manú

Entre Nous disse...

Que lindo, amor!

Eu já havia lido o texto, mas agora, assim como a pequena, deu vontade de ter a benção de compartilhar a vida com a Balbina.

Love ya!

T

Yo Neris disse...

Um texto que não apenas arrepia mas emociona.
FelizDia(noite) do Amigo, querida!
Bjo no core.

Ester disse...

Que história maravilhosa de gratidão Isa! Nesse deserto que está a virar esse mundo, sentimentos assim me comovem profundamente,
vc não poderia ter ilustrado melhor o dia de hoje com essa história linda de uma amizade que não terminou com a partida, mas se eterniza pela lembrança e pelo carinho passado de mãe para filha,

lindo de viver! Bjs no coração.

Lis. disse...

Existem coisas que foram escritas lá em cima e que marcam muito a vida da gente aqui embaixo.

Bom dia Isadora!

legalmente loira... disse...

PRA VOCE O MEU CARINHO

Queria dizer que eu poderia pegar
uma mensagem qualquer e te enviar, mas preferi colocar algumas palavras
para VOCE que é a pessoa que me faz bem, esta presente nos meus dias
bons e ruins e me faz companhia através dessa tela.

Chorei com
algumas histórias, chorei de tanto rir, fiquei triste com partidas, mas
sou mto feliz com VOCE que me deixa fazer parte da sua vida e divide
comigo seus momentos.

Muito Obrigado por sua confiança, sua
amizade...
Receba sempre meu Respeito, Carinho e Atenção. Gosto mto
de VOCE.

FELIZ DIA DO AMIGO

Bjo carinhoso..
lindo texto e foto....

Everson Russo disse...

BEijos carinhosos de bom dia pra ti amiga.

Tati disse...

Isa querida, também fiquei emocionada com seu texto, imaginar a história de vida desta mulher, que foi pura doação. E seu carinho e gratidão por ela. Grande Balbina, gostaria de ter experimentado este bolo de chocolate... Beijos!

She disse...

Que lindo! Belo post, emocionante... queridaaaaa aquele texto de Drumonnd que postei é maravilhoso mesmo, que bom que gostou, bjo, bjo!

Fátima disse...

Sabe Isadora, o que fala mesmo é o coração, a coisa do sangue nem sempre garante proximidade e afeto não é.
Bom ter uma Balbina para recordar e guardar no coração.

Beijinho agradecido pelo seu carinho.

Denise disse...

Oi, Isadora. Tudo bem?
Tantas vezes que te vi em cantinhos de amigos comuns, me prometia vir até aqui - hoje não deixei pra depois, aprendi a lição de não adiar o que meu coração pede, e cá estou.
Cheguei num dia de repostagem, e de um texto lindo, tocante, cheio de amor e encanto. Que bom, pq emocionada me faço ficar, por ter gostado tanto deste lugar - ele combina com o rosto que cruzei tantas vezes!
Beijos!!

♪ Sil disse...

Isa, sem comantários...

To muito emocionada pra isso..

Lindoooooo minha amiga..acredite, eu senti esse arrepio.

Um beijo!

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Isadora...
Eita que comentar hoje está me valendo uma viagem ao passado e em épocas quase que id~enticas, nãofoi muito diferente lá no blog da Andrea, a história é diferente, mas a ess~encia...Ah...esta é a mesma, aquela qu pega a gente com os pés descalços, com a alma distraida e vai fazendo estragos na emoção...rsrs
Pesoas assim valem ouro e ficam pra smpre guardadas em algum cantinho de nossa alma...
Linda postagem...
Um abraço na alma
Beijo

Sandra disse...

Lindo, maravilhoso.
Feliz DIA DO AMIGO PARA VC TAMBÉM.
Amigo é todos os dias. São como as canções que ouvimos sempre.
Leve o selinho Super para vc.

És uma amiga muito especial.

(Antiga oração inglesa)

Arranje tempo para ser amigo
É a estrada para a felicidade
Arranje tempo para sonhar
É seu vagão a uma estrela engatar...
Arranje tempo para amar e ser amado
É o privilégio dos deuses.
Arranje tempo para olhar ao redor
O dia é muito curto para ser egoísta.
Arranje tempo para rir
É a música da alma.

Sandra
Carinhosamente deixo o meu abraço.

Anônimo disse...

Venho convidar você, para estar em nosso blog e conhecer a nossa convidada a escritora Bruna Longobucco, que nos traz um assunto muito importante.
Aproveitamos para desejar que você tenha um ótimo fim de semana!
Um abraço carinhoso

Hod disse...

Maravilhosa a história de Balbina, Isa!!
Um exemplo de amor incondicional, verdadeiramente emocionante.
Que a gratidão seja o sorriso de almas.

Beijo pra vc Isa.

pensandoemfamilia disse...

Bela homenagem , lindos sentimentos. A vida nos proporciona criar vínculos que nem a morte apaga. Este exemplo vc expos de uma forma muito sensível.
bsj.

Ives disse...

Olá, adorei a sua forma de escrever, por acaso vc já leu Poe ou Kafka? abraços

Beth/Lilás disse...

Isadora,
Que coisa mais linda seu texto em homenagem a esta querida pessoa que fez parte de sua vida e sua família.
É tão bom ver que ainda existem pessoas com sentimentos grandes em meio a tanto caos neste mundo.
Que sua Balbina esteja num bom lugar agora e veja o seu amor aqui nestas palavras.
bjs cariocas

Anônimo disse...

Ah, esses anjos existem, e eles moram entre nós. São poucos, é verdade, mas são bem diferentes das pessoas comuns. Bom conhecer alguém assim, é um conforto pro coração, especialmente pq estamos rodeados de gente ruim. Adorei a história desse anjo, muito profunda e reflexiva.

AmoAndreiaJoias disse...

Oiii
Lindissimo! adoro a idéia de anjos e a forma como nos apresentam, acho algo misterioso e encantador!!!
estou adorando o blog!
Vou segui-la!
bjinhusss

Daniel Savio disse...

Meus pesames pela a tua perda...

Mas o Verseiro é gente boa, por isso não poderia deixa-lo de ajudar.

Fique com Deus, menina Isadora.
Um abraço.