15 de janeiro de 2012

Microconto


Dessa vez era uma carta curta, bem diferente de tantas outras que havia escrito. Já tinha escrito tudo o que guardava no coração e na alma exaustivamente. Talvez tenha sido repetitiva, mas o que o coração guarda são lembranças repetidas de momentos finitos.

Olhava para o papel preenchido de letras, sentimentos, cores e aromas. Ficou surpresa em como foi sucinta. Dessa vez não houve rodeios ou floreios. Talvez o assunto tenha se esgotado, ou, ela estava esgotada.

Dobrou o papel delicadamente e pegou o envelope carmim. Até a escolha do papel e do envelope eram teatrais. Pensou: por que tanta dramaticidade? Desde sempre foi assim: uma sucessão de exageros.

Tudo tem uma medida, e, ela por diversas vezes exagerou, não é à toa que que se erramos a medida, o bolo desanda, o tempero fica picante, a comida fica salgada.

Pegou a carta, a bolsa mas por um minuto ficou parada perto a porta. Aquele minuto em que uma mudança de rumo pode alterar toda a história. Deu meia volta e foi até a biblioteca. Tirou  um livro da estante e colocou a carta dentro.

Aquela carta não seria enviada. Chegou a conclusão que era uma carta para si mesma e que desse momento em diante não erraria mais a medida. Nada de exagero ou escassez, apenas a medida exata.

11 de janeiro de 2012

Gentileza sempre gera Gentileza

Compartilho com vocês um dos vídeos mais bonitos que já vi nos últimos anos.

Um mundo assim seria maravilhoso!



4 de janeiro de 2012

A arte de esperar



Uma amiga (blog Mulher de Fases) compartilhou esse texto do Antônio Prata e ao ler, o mesmo caiu como uma luva. Imagino que assim como para mim, o texto trará igual sensação.
O bem mais valioso de nossa época não é o diamante nem o petróleo, a fórmula da Coca-cola ou o sorriso da Natalie Portman: é o tempo. Obedecendo à lei da oferta e da procura, quanto mais escasso ele fica, mais caro nos é. A seca temporal é geral e irrestrita, tão democrática quanto a calvície, a saudade e a morte: eu não tenho tempo, você não tem tempo, o Eike Batista não tem tempo, o cara que está vendendo bala no farol, em agônica marcha atlética para recolher os saquinhos dos retrovisores, antes que abra o sinal, também não tem. 
Como vocês devem saber, o principal sintoma desta doença crônica – sem trocadilho - é a ansiedade. Toda manhã, flagro-me aflito, escovando os dentes, com pressa. Vejo-me batendo os pés no hall, enquanto o elevador não chega. Até o segundo que o cursor do celular leva para piscar, num SMS, permitindo-me digitar outra letra da mesma tecla, deixa-me exasperado.(...)

(...)Há quem diga que a culpa é da melhora das comunicações e, consequentemente, do envio de dados. Com a informação viajando tão rápido, desaprendemos a arte da espera. Antigamente, aguardar era normal. Estávamos sempre esperando alguma coisa chegar. Uma carta, pelo correio. Um disco, do exterior. Uma foto, um texto ou um documento, via portador. Esses hiatos eram tidos como normais, uma brecha saudável, pausa para o cigarro ou o café, a prosa, a leitura de uma revista, o devaneio, a conversa na janela, a morte de bezerra. Hoje, não. Tá tudo aqui, e, se não está, nos afligimos. Queremos o pássaro na mão E os dois voando. Por que é que ainda não trouxeram esses dois que tão no céu, diabo?! Já não era melhor ter pego logo os três, de uma vez, otimizando custos e esforços?

Enquanto não descobrimos a cura para este mal, a única saída é aprender a lidar com ele. Há que cercar com muros altos certas horas do relógio, para que nada as possa roubar de nós. Fazer diques de pedra em torno da hora de ficar com nosso amor, da hora de trabalhar no projeto pessoal, da hora do esporte, de ler um livro, encontrar um amigo. Mesmo assim, vira e mexe, vêm as obrigações, como um tsunami, ou os eventos sociais, como meteoros, e derrubam as barragens. Não há nada a fazer, senão reconstruir os muros, ainda mais fortes do que antes.

Você sente a mesma coisa, ou sou só eu? Talvez seja só eu. Quem sabe, numa manhã de terça-feira, lá por 1998, eu tenha perdido a hora, para nunca mais a encontrá-la? Ficarei assim, trinta minutos atrás do resto do mundo, tentando alcançá-lo, ininterruptamente, como quem corre atrás de um trem, até o fim dos tempos. Será que foi isso?
 
 (Antonio Prata)