30 de março de 2010

Bem e Mal - Conto


- Ah não! Você por aqui novamente? Não estava viajando? – perguntou nitidamente irritado, o Bem.

- Meu caro, as viagens não são intermináveis e uma hora é preciso voltar. Não se esqueça que propus apenas uma trégua. Não lhe disse que não voltaria mais – respondeu o Mal - olhar escuro profundo e sorriso escancarado.

- Você não se cansa? Não lhe passa pela cabeça desvencilhar-se de companheiros cujos predicados são tão desagradáveis? Não te incomoda ser marca do nada, da ausência de substância, da falta de essência? – perguntou o Bem.

- Não se iluda, meu velho amigo. Já pensaste que não sobreviveria sem ter a mim? Sou seu contraponto. Sou seu melhor antagonista e sua história não seria tão repleta de glórias e triunfos, caso eu resolvesse partir de vez.

- Acredito que quem se ilude aqui é você, Ilustríssimo. Talvez não lhe tenha passado pela cabeça que não desejo glórias e triunfos e que tão pouco sou protagonista de alguma história, pois caso essa personagem exista com certeza será uma outra companheira. Será a Paz que advém daqueles que me tem no coração.

Nota: esse post é complementar a A Trégua publicado em janeiro/2010.

Deixo, um mensagem de otimismo para todos aqueles que por aqui passarem:

"Que Deus não permita que eu perca o romantismo, mesmo eu sabendo que as rosas não falam.

Que eu não perca o otimismo, mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.

Que eu não perca a vontade de viver, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...

Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...

Que eu não perca a vontade de ajudar as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.

Que eu não perca o equilíbrio, mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia.

Que eu não perca a vontade de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...

Que eu não perca a luz e o brilho no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo, escurecerão meus olhos...

Que eu não perca a garra, mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos.

Que eu não perca a razão, mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas.

Que eu não perca o sentimento de justiça, mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu.

Que eu não perca o meu forte abraço, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...

Que eu não perca a beleza e a alegria de ver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos
e escorrerão por minha alma...

Que eu não perca o amor por minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços incríveis para manter a sua harmonia.

Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado.

Que eu não perca a vontade de ser grande, mesmo sabendo que o mundo é pequeno...

Amorosamente,
Francisco Cândido Xavier"

Bem e Mal - Fábula


"Era uma vez um lobo que entalou na goela um osso que não conseguia nem tirar nem engolir. Pediu à comadre cegonha que fizesse a gentileza de usar seu longo bico e retirar o osso. Ela não teve nenhuma dificuldade em fazer o serviço. Mal havia retirado o perigo da garganta do lobo, este se voltou feroz para devorar a comadre. Pulando de lado ainda perguntou a ave assustada: "Que é isso? Faço-lhe um bem e você vai devorar-me e quer pagar o bem com o mal?" O lobo respondeu: "Eu também, neste momento lhe fiz um bem e você nem viu que esteve com a cabeça dentro da minha boca e eu não a fechei?"

(Fábula: O lobo e a garça)

27 de março de 2010

Domingo, Beatles e o Vizinho




Manhã ensolarada de domingo e Cris nem cogitava colocar o pé na rua. Precisava, urgentemente, arrumar a bagunça que havia se instalado em seu apartamento.

Munida de vassoura, balde e alguns produtos de limpeza resolveu começar pelo quarto. Já que a limpeza era inevitável que pelo menos fosse com música. Ligou o som, catou um dos seus vários CDs dos Beatles e colocou num volume que preenchia cada espaço da casa, ou seja, alto.

Ela cantarolava as músicas comedidamente, mas foi quando começou a tocar Help!  que sem perceber aumentou o tom e aos berros recitava o refrão: Help me if you can, I'm feeling down and I do appreciate you being round. Help me, get my feet back on the ground. Won't you please, please, help me, help me, help me, oh.

Lá pelas tantas se deu conta do quão alto estava o volume e de que certamente dali a pouco algum vizinho reclamaria. Foi até o som e abaixou um pouco o volume. Quando voltava para o quarto viu um pedaço de papel debaixo de sua porta.

Sabia, devia ser alguém reclamando. Foi até a porta, abaixou-se para pegar o papel e ficou um pouco confusa com o que leu: “Eu também preciso de alguém!”. Hein? Abriu a porta, mas não viu ninguém. No mínimo era algum vizinho mexendo com ela.

Voltou à arrumação e aos Beatles, agora de olhos fechados fazendo a vassoura de par rodopiava embalada por All You Need Is Love. Foi até a cozinha pegar água e novamente um papel. Abaixou-se para pegar e leu: “Tudo o que eu preciso é de amor!”.

Tentou se concentrar na limpeza, mas ficou encucada com as folhas de papel. Tentou lembrar-se dos vizinhos do andar, mas parava tão pouco em casa que se deu conta que não tinha a menor ideia de quem eram, salvo o casal com os dois filhos e a senhora com a acompanhante, mas e os outros três?

Seus pensamentos foram interrompidos pela campainha. Foi até a porta e olhou através do olho mágico. Cena no mínimo inusitada, um homem com uma xícara na mão parado em frente a sua porta.

- Quem é? – Perguntou.

- Oi, desculpe incomodar. Sou o Vicente, seu vizinho do 305.

Abriu meia porta e qual não foi a sua surpresa a ver o vizinho do 305. Bem, seu vizinho era uma cara de estatura mediana, cabelo bem curtinho castanho escuro, um rosto oval que estreitava-se à medida que avançava em direção ao queixo, barba por fazer e um par de olhos amendoados. Suas feições em nada eram delicadas, porém trasbordava sensibilidade e seus olhos o faziam parecer confiável. Como diria sua avô, “um pedaço de mau caminho”.

Abriu um pouco mais a porta e pensou: só falta ele dizer que precisa de um pouco de açúcar e blá blá blá. Dito e feito. Esse foi o discurso de Vicente. Foi até a cozinha e voltou com a xícara cheia. Por um segundo pensou ter visto em seu rosto um sorriso moleque. Entregou a xícara, Vicente agradeceu e virou-se em direção ao seu apartamento. Cris estava fechando a porta quando ouviu.

- Desculpe, mas não sei seu nome.

- Me desculpe você, eu nem me apresentei. Me chamo Cristiana, mas todos me chamam de Cris.

- Bom, Cris vou preparar um café fresquinho e se não estiver ocupada e puder vá tomar um cafezinho comigo.

- Ah, Vicente, muito obrigada pelo convite, mas estou aqui às voltas com uma faxina e ainda falta muito para eu acabar. Podemos deixar o café para outra ocasião?

- Claro que sim! Fique à vontade para bater lá em casa e cobrar o café.

- Pode deixar vou cobrar mesmo.

Se despediram e Cris fechou a porta. No instante em que entrou no apartamento, começou a falar em voz baixa: Por que você não aceitou o convite? Que história é essa de faxina? Você achou ele atraente, pode confessar. Ao mesmo tempo em que perguntava respondia: Eu nem o conheço, como posso ir à casa de um homem que nunca vi em minha vida. E se ele for um psicopata? Não, eu não podia fazer isso. E ficou assim por uns cinco minutos.

Passada a discussão consigo mesma, e já tendo mesmo recusado o convite resolveu se concentrar na faxina. Afinal não era esse o seu programa de domingo?

Para sua surpresa, uma música em volume absurdo começa a tocar e invade o apartamento. Não é possível falou Cris, agora em voz alta. Em alto som era possível escutar:Help me if you can, I'm feeling down and I do appreciate you being round. Help me, get my feet back on the ground. Won't you please, please, help me.

Correu para pegar uma folha de papel, escreveu rapidamente algumas palavras, abriu a porta e empurrou o papel para debaixo da porta do 305. Correu para o seu apartamento.

Ficou olhando para a porta como se quisesse hipnotizá-la. Uns cinco minutos depois, uma nova folha de papel aparecia por debaixo de sua porta. “O café está fresquinho. Estou apenas esperando a sua visita”.

Tomou um banho voando, colocou um vestido levinho, sua sandália havaiana e bateu na casa de Vicente.

O domingo varou a madrugada e correu regado a Beatles, um belo almoço preparado por Vicente, cafezinho, risadas e mais tarde um vinho e um bom papo.

Depois daquele domingo, as vidas de Cris e Vicente se entrelaçaram.

Como não poderia faltar, a trilha musical de Cris e Vicente:

26 de março de 2010

Anjo da Guarda



Acompanhava pelo jornal, o terceiro dia de julgamento do casal Nardoni, quando me deparei com o relato feito pelos peritos ao júri. Dali foi impossível passar, impossível continuar. Cheguei à conclusão de que não tenho estrutura emocional para acompanhar o caso. Como mãe, cada palavra lida atingia meu estômago com veemência e um véu de tristeza desceu sobre mim. Naquele momento decidi não continuar.
Ainda digerindo o que tinha lido pensei na minha filha, e em todo amor a ela devotado e escrevi esse pequeno conto. Vamos ao conto...
Nova e meia da noite e a mãe começa a ladainha de todos os dias: filha troca a sua roupa e coloca a camisola, filha, por favor, vai escovar seus dentes, filha já separou o material para amanhã? filha arrume os brinquedos que estão espalhados.
A filha responde também com a ladainha de todos os dias: mãe, só um minuto, já vou trocar a roupa, mãe, posso escovar o dente com a sua pasta de dente? mãe vou separar o material, mãe me ajuda a arrumar isso aqui.
Ambas as ladainhas terminadas, a mãe coloca a filha para dormir e deita ao seu lado para fazer-lhe um pouco de companhia e ler uma história. Ritual sagrado de todos os dias.
História contada e filha já acomodada, a mãe pergunta:
- Filha, você já agradeceu ao seu anjinho da guarda pelo dia de hoje?
- Não, mãe, ainda não.
No instante seguinte, a menina começa:
- Meu anjinho da guarda, muito obrigada pelo dia que eu tive hoje.
Juntas mãe e filha terminam:
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador. Se a ti me confiou à piedade Divina, sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine. Amém.
Que o anjo da guarda de nossos filhos esteja sempre ao lado deles zelando e protegendo.

24 de março de 2010

Pecado Capital - Conto



- Você percebeu?

- Claro que sim!

- Mas...eu tentei disfarçar. Na verdade tentei esconder de você.

- De mim? A essa altura de nossas vidas você já devia saber que isso não é possível.

- Eu sei. É que fiquei envergonhada. Ok, agora você vai me criticar, condenar ou passar um sermão, certo?

- Eu, nem pensar. Me diz uma coisa, há quanto tempo nos conhecemos?

- Há muito tempo é certo – confessou sem jeito.

- Então você também deveria saber que não a criticarei, não a condenarei e muito menos passarei um sermão. Eu a conheço, se lembra?

- Lembro muito bem, mas alguma coisa você tem a me dizer.

No íntimo sentia que não estava preparada para aquela conversa, mas esperava, sinceramente, que fosse amena e que a ajudasse a recobrar a serenidade.

- Minha querida, tudo o que eu tenho para dizer-lhe, você já sabe, porém se insiste é porque talvez precise ouvir para se sentir confortada. Então, sente-se vamos conversar, mas antes vou preparar um chá, vá puxando uma cadeira para nós duas.

- Porque se sente tão angustiada e inquieta? Sabe de tudo aquilo em que acreditas, sabes o que considera justo e correto. E acima de tudo, já aprendeu que a vida nos prega peças. Aceita sem crucificar-te que és humana e por isso passível de erro e que o que sentiste não a faz pior do que ninguém. É assim mesmo todos vivem sentimentos contraditórios, sentimentos que vão de encontro ao que consideramos correto e bom.
Isso que sentiste e que não queres denominar, mas que vou te ajudar, chama-se inveja.
“Ninguém pode ter tudo. Estou falando das características próprias de cada um como caráter, consciência tranqüila, mente desencanada, leveza de espírito e vou um pouco além, o remelexo sensual de quadril que é natural da mulata, aquela levantada de sobrancelha que só algumas pessoas que  têm o charme maduro.
 Não adianta e nem é saudável querer ser igual ao outro.  Atente para isso e entenda que sofrer por causa desse sentimento não a levará a lugar algum, mas encarar isso de frente pode, sim, te ajudar. 

Vou lhe contar uma história: Florença, 1504. Viviam dois grandes pintores: Michelangelo Buonarroti e Leonardo da Vinci.Era nítida entre eles uma rivalidade e alguns garantem que Michelangelo de fato sentia inveja de da Vinci. No entanto, esse sentimento de Michelangelo gerou algo positivo. No seu ateliê, ele estudava as inovações técnicas implementadas por da Vince, como o jogo de sombra e luz. O sentimento de inveja fez com que ele se sentisse instigado e construísse uma carreira repleta de obras-primas como a Última Pietá e a capela Sistina.

Vamos combinar, minha querida amiga, quem nunca sentiu inveja? Vou adaptar o ditado e te dizer que quem nunca a sentiu não que atire a primeira pedra mas que atire a primeira flor!

Estava desconcertada com aquela conversa e ainda sentia-se envergonhada, porém sua Alma a entendia como ninguém e era possível sentir que o mal-estar causado por aquele sentimento começava a se dissipar.

Vida que segue e mais uma lição.

Nota: a parte do texto em itálico é uma livre adaptação de Sobre a Inveja, artigo de Mariana Valle.

Pecado Capital - Fábula



Encontraram-se na estrada. Um cão e um lobo. E este disse:

“Que sorte amaldiçoada! Feliz seria, se um dia como te vejo me visse.Andas gordo e bem tratado, vendes saúde e alegria. Ando triste e arrepiado, sem ter onde cair morto! Gozas de todo o conforto, e estás cada vez mais moço. E eu, para matar a fome, nem acho às vezes um osso! Esta vida me consome...

Dize-me tu, companheiro: onde achas tanto dinheiro?”

Disse-lhe o cão: “Lobo amigo! Serás feliz, se quiseres. Deixar tudo e vir comigo. Vives assim porque queres...terás comida à vontade, terás afeto e carinho, mimos e felicidade, na boa casa em que vivo!”

Foram-se os dois. Em caminho, disse o lobo, interessado:

“Que é isto? Por que motivo tens o pescoço esfolado”

— “É que, às vezes, amarrado. Me deixam durante o dia...”

“Amarrado? Adeus amigo!(disse o lobo). Não te sigo!

Muito bem me parecia que era demais a riqueza...Adeus! Inveja não sinto:quero viver como vivo! Deixa-me, com a pobreza!

— Antes livre, mas faminto,do que gordo, mas cativo!”

(Olavo Bilac)

21 de março de 2010

Inspiração



Sou tomada por pensamentos que tem urgência em abandonar o privado e tornarem-se públicos.

Sou tomada por veemência avassaladora que não dá sossego até conseguir o seu intento.

A inspiração surge como dia, entremeado de diurno, vespertino e noturno.

20 de março de 2010

Pôr-do-Sol


Caminhou, lentamente, sem pressa nenhuma até bem próximo da beira e sentou-se. Ali sentada na areia fininha contemplava a pintura que se descortinava diante de seus olhos e se sentia abençoada.

O mar sereno brincava com as ondas e estas quebravam redondas bem na beirinha, a maresia brincava com o vento e contava-lhe histórias. O sol de braços abertos brilhava esplendoroso e anunciava auspicioso que iria se pôr.

Ela olhou em volta e silêncio foi tudo o que encontrou.

Estava ali não por estar triste ou amuada, ou muito menos preocupada. Queria simplesmente ver aquele sol apressado receber o anoitecer.

Ali ficou e quando à noite chegou, apenas, se levantou e voltou pra casa cantando baixinho: moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza!

É sempre bom afagar a alma!

18 de março de 2010

A pequena Marina











Marina tinha dez anos e vivia com os pais em um pequeno vilarejo próximo a uma floresta. O pai era lenhador e conhecia como ninguém aqueles caminhos. Volta e meia, Marina, o acompanhava.

E foi em uma tarde dessas que a menina foi surpreendida. Estava sentada sobre o tronco de uma árvore, olhando o passo apressado das formigas quando ouviu:

- Oi!

Marina olhou para os lados, mas não avistou ninguém. Voltou então às formigas.

De repente, a menina sentiu algo puxando a barra de seu vestido. Olhou para baixo e custou a acreditar no que viu: duas fadas de pouco mais de 50 cm cada uma.

Marina é claro ficou assustada, mas as fadas apressaram-se em explicar.

- Oi, Marina, eu sou a Fada do Norte e esta é a Fada do Sul. Não fique assustada, nós não lhe faremos mal algum. Nós moramos nessa floresta e a conhecemos desde que era uma menininha e acompanhava seu pai. Brincamos com você por diversas vezes, mas talvez com o passar dos anos você tenha esquecido.

- Oi - respondeu Marina e completou: eu não me lembro de vocês.

- Não tem problema nenhum, nós já sabíamos.

A menina e as duas fadas passaram o restante da tarde entre conversas e brincadeiras, até que o pai retornou e foram para casa. Chegando em casa não contou nada aos pais, pois temia que eles não acreditassem e a proibissem de voltar à floresta.

Todas às vezes em que Marina acompanhava seu pai, a Fada do Norte e a Fada do Sul estavam por lá a esperando. Eram tardes de pura alegria e diversão. Vez ou outra, as fadas davam algum conselho à menina.

Uma tarde, Marina saiu apressada de casa. Disse à mãe que logo voltaria e correu para o interior da floresta. Precisava encontrar suas amigas fadas.

Quando as avistou, saiu falando descontroladamente. As palavras saiam embaralhadas, tamanha era sua aflição. As fadas pediram que a menina tivesse calma e explicasse direitinho o que estava acontecendo.

Marina desandou a falar e assim foi nos 30 minutos seguintes. As fadas escutaram atentamente e não a interromperam. Quando a menina acabou, entreolharam-se e a fada mais velha disse:

- Minha pequena Marina, nós entendemos bem como se sente, e temos algo a dizer. Guarde isso para todos os momentos em que se sentir assim: não ter medo é como quebrar o encanto. E quebrado o encanto nada mais há de temer.

Marina voltou para casa envolta em uma leveza que jamais experimentara e a partir daquele dia sempre que sentia medo, simplesmente, quebrava o encanto.

17 de março de 2010

João e Maria

 Passei o dia com essa música na cabeça!!!



Para que todos tenham um finalzinho de quarta "bem boa" como a minha.

16 de março de 2010

Um sábado











Era um sábado de outubro. O céu amanheceu cinza e uma chuva fina insistia em cair. A vontade de continuar na cama era grande, mas estava cansada de rolar pra lá e pra cá. Não tinha dormido bem e o sono desistiu dela.

Não lhe restava mais nada a fazer senão levantar e preparar um café.

Estava na cozinha preparando um café bem forte quando o interfone tocou. Ela olhou para o relógio na cozinha e os ponteiros marcavam nove horas.

Quem é há essa hora e ainda por cima em um sábado?

Atendeu um tanto irritada e o porteiro disse: - Dona Alice, entrega para a senhora. É da floricultura.

Rapidamente pensou: que dia é hoje? Não se lembrou de nenhuma data especial. Nem mesmo seu aniversário era.

Falou meio imapaciente para o porteiro: - Obrigada, Antônio. Pode subir.

Esperou a campainha tocar. A campainha tocou e lá foi ela abrir a porta.

Abriu a porta e por um segundo pensou que soltaria uma gargalhada. Mal conseguia ver o entregador,
pois um buquê de rosas vermelhas, gigantesco, o encobria. Era pra mais de três dúzias de rosas.

Meio desajeitada pegou o buquê, deu uma gorjeta para o entregador e entrou. Tudo começou a fazer sentido. Junto com o buquê havia um cartão e nele estavam escritas apenas quatro palavras: Por favor, me desculpe.

Colocou o cartão na mesinha e voltou para as flores. Onde iria colocá-las?

Resolveu deixar o buquê sobre a mesa e terminar o café da manhã. Depois pensaria no que fazer.Tomou seu café e acabava de lavar a louça quando o interfone tocou novamente. Quem será agora?

O porteiro meio sem graça disse: - Dona Alice, é da floricultura.

- Como é que é Antônio?

- Da floricultura.

- Tá, Antônio pode deixar subir.

A cena se repete: esperou a campainha tocar. A campainha tocou e lá foi ela abrir a porta. Dessa vez era um arranjo de gérberas. Mais uma vez agradeceu o entregador, deu uma gorjeta e entrou.

E agora? O que vou fazer com tantas flores?

O arranjo veio acompanhado de um cartão. O mesmo escrito: Por favor, me desculpe.

Largou o cartão de lado, pois agora tinha um problema. Não tinha jarros nem vasos para aquela quantidade toda de flores. Foi uma áfrica e a essa altura tinha até balde com flor. Ainda estava às voltas com aquela arrumação quando o interfone voltou a tocar.

- Dona Alice, eu não tenho culpa é da floricultura de novo.

- Antônio, deixa subir - respondeu de má vontade.

Tudo de novo: esperou a campainha tocar. A campainha tocou e lá foi ela abrir a porta. Agora, eram orquídeas e o cartão com o mesmo escrito. Dessa vez não deu gorjeta. Se o ritmo continuasse o mesmo certamente iria à falência.

Olhou para o relógio que marcava onze horas e dez minutos. Refez mentalmente o horário das outras entregas: nove horas, dez horas. Meu Deus, de uma em uma hora! Quantas horas faltam para terminar o dia?

A suspeita se confirma. Meio-dia. O interfone toca. Ela nem espera o Antônio falar e já vai dizendo:

- Já sei Antônio é da floricultura. Pode subir.

A mesmíssima cena mais uma vez, agora diferente apenas pelas flores do campo.

Foi largando as flores pelo caminho. Nem se deu ao trabalho de pensar onde colocá-las. Buscava aflita, o telefone da tal floricultura. Pegou o telefone e ligou. Um rapaz atendeu e Alice explicou o que estava acontecendo e pediu para o rapaz suspender as demais entregas que porventura houvessem.

O rapaz pediu alguns minutos. Alice esperou e quando o rapaz retornou disse que infelizmente não podia cancelar as entregas.

- Mas eu não tenho nem mais um lugar para colocar flores!

Pausa. Alice retoma a conversa:

- Me diz uma coisa quantas entregas ainda serão feitas?

O rapaz ficou mudo por alguns instantes e falou:

- São mais quatro entregas.

- Quatro! Sei...tá bom, muito obrigada. E desligou o telefone.

Foi para o quarto e se jogou na cama. Pensou em voz alta:

- Ele não sabe que há muito tempo o nosso destino está traçado.

Assim será...

Como não poderia deixar de ser, o texto tem a sua própria música.

14 de março de 2010

Nós criamos o caos













Há muito tempo, Ela vinha pensando nisso: somos nós mesmos que criamos o nosso caos.

Ela refletiu e analisou a afirmação de vários ângulos, de várias formas e pensou em várias situações. Aí, Ela se lembrou de uma história que uma amiga contou.

A história era de Amor e percorria como um rio várias margens – relacionamento, família, filhos, tempo.

A amiga começou a contar a história e Ela atenta não perdia nenhuma parte.

Uma amiga dessa amiga tinha uma vida, como costumam dizer “perfeita”.

Era casada há uns bons anos com um namorado da juventude. O namorado, hoje, marido havia se esforçado muito e era gerente de uma estatal. E fora através de muito esforço e dedicação que podia oferecer a mulher e ao casal de filhos uma vida “tranquila”.

A mulher desde o nascimento dos gêmeos havia conseguido um trabalho de meio expediente. Na parte da manhã, se dedicava integralmente a cuidar dos gêmeos: inglês, ballet, judô e na parte da tarde enquanto as crianças estavam na escola exercia seu ofício.

O pai embora trabalhasse muito participava ativamente da vida das crianças e era zeloso, amoroso e acima de tudo após os longos anos de casamento ainda nutria pela mulher, um amor sem tamanho. Procurava agradá-la até nas coisas mais simples.

Um belo dia, a mulher começou a enxergar defeitos no marido e atribuir a ele sua insatisfação. É ela estava cansada daquela vida feliz, tranqüila, pacata e previsível.

Ela queria correr o mundo, viver novas aventuras, sentir o coração pulsar e o rosto ruborizar e disse ao marido que precisava voar sozinha, que a estrada trilhada até o momento não a conduziria ao lugar onde desejava chegar.

O marido ficou atônito e custou a acreditar. Afinal, eram tão felizes. Onde ela queria chegar com tudo isso?

Viveram momentos difíceis, de indefinição, mas o marido acreditava em tudo o que haviam construído, na família que haviam formado, na segurança e paz que o casamento lhes trazia e com o coração estraçalhado decidiu deixar a mulher livre para alçar seus novos voos. Ele a deixou ir para onde queria e como queria.

Depois de muito tempo, a mulher caiu em si e percebeu que tudo o que ela havia construído com ele não podia ser jogado fora como um pedaço de papel que amassamos e jogamos na lixeira. Afinal, casamento não é um nó que se desfaz.

Ele a havia amparado em seus momentos de maior fragilidade, ele havia sido o seu porto seguro durante todos aqueles anos. A paz de espírito advinha do seu amor incondicional. Ele era o seu companheiro e pai de seus filhos. Aquela era a sua família e ela por um momento quase pôs tudo a perder e por quê? Porque a insatisfação não estava no casamento, porém em si mesma. Não podia esperar que os outros lhe indicassem a direção, se nem ela sabia para onde queria ir.

Ela viu que aquela tranqüilidade, a relação amorosa após tão longos anos, a segurança e a família eram exatamente o que ela precisava para ser feliz.

Ela não queria aventuras, incertezas e inseguranças. Isso tudo era muito mais do que ela podia suportar e muito menos do que merecia.

O marido por amá-la tanto a perdoou e juntos passaram uma borracha nesse momento de insegurança por qual a relação passou.

Ela parou e fez uma breve retrospectiva de toda a sua vida e pasma pensou: como pude ser tão leviana, egoísta e inconsequente comigo, com ele, com nossos filhos, com nossa família? Carregaria durante muito tempo o peso da culpa. A mesma que a consumia, mas estava decidida a botar um ponto final no caos que ela própria criou para si e para os que amava.

Vida que segue.

“Às vezes achamos  a grama do vizinho mais verdinha do que a nossa e nos esquecemos de ver o belo jardim que nós mesmos fizemos.”

Nota: o post tem trilha sonora!



12 de março de 2010

Esperando na janela













O relógio marcava cinco horas e quinze minutos.

Foi até o banheiro e arrumou seu longo cabelo preto como de costume, partido ao meio e preso em duas belas tranças. Para arrematar um laço branco de cada lado.

Saiu afobada e estrategicamente apoiou-se no parapeito da janela, do velho casarão. Agora, tinha apenas que esperar.

Esse ritual fazia parte de suas tardes há pelo menos cinco meses, ou seja, desde a primeira vez que o viu. No dia seguinte retornou a janela e esperou. Às cinco e meia em ponto, ele passou debaixo de seus olhos.

Assim, suas tardes seguiam. Sempre aguardando aqueles preciosos minutos. Apenas o via passar e o seguia com os olhos até que no final da rua, ele virasse à esquerda. Nunca teve coragem de chamá-lo, nem mesmo segui-lo na tentativa de descobrir onde morava.

Ele sequer notava a sua presença. Passava sempre de cabeça baixa e com o passo apressado, porém naquela tarde algo surpreendente aconteceu. Ao passar embaixo de sua janela, olhou para cima e sem nada dizer olhou bem no fundo de seus olhos e assim ficou por alguns minutos até que lhe lançou um largo e gentil sorriso.

Seus olhos brilhavam e pareciam querer lhe dizer algo. Ela apenas o fitou. Finalmente havia tocado seu coração.

11 de março de 2010

Os dias










Caminho, lentamente, em direção ao quintal da minha casa.

Ajeito-me e sento confortavelmente no banco, mas não é um banco qualquer. É o meu banco.

Emoldurando o banco, uma agradável tarde de outono e observo com encanto, o tapete que as folhas ao caírem criaram.

Como companhia o canto do vento acompanhado pela harpa.

Trago comigo, o meu livro. O livro dos meus dias, das minhas flores, do meu destino, dos meus amores.

Aguardo, calma e paciente, o desenrolar da história da minha vida.

Nota: o texto teve como inspiração o título do blog - olivrodosdiasdois.blogspot.com e a letra da música O Livro dos dias - Legião Urbana

Não foram detectados erros. Cancelar Aceitar Alterações

9 de março de 2010

O Poder

No final de semana que passou, assisti a toda primeira temporada de The Tudors. Foram 10 capítulos de aproximadamente 50 minutos cada um. Ou seja, final de semana imersa nos amores, intrigas, disputadas de poder político e religioso da corte de Henrique VIII. Difícil voltar a realidade, mas que seja ainda tenho a segunda temporada pela frente.

A produção, o elenco, o figurino, a fotografia, a música impecáveis. Algumas críticas foram feitas a série, já que Henrique VIII não foi retratado de acordo com os relatos da época.Enfim, pesquisadores e historiados fizeram lá suas críticas.

Eu como mera espectadora e apreciadora de história não me incomodei com as licenças poéticas. Assisti a tudo encantada.

Tenho pouquíssimas ressalvas quanto ao desenrolar da trama, mas isso não importa.

Gostaria muito de comentar e deixar as minhas observações sobre o triângulo amoroso: Henrique VIII, Catarina de Aragão e Ana Bolena, porém deixarei para outro post, pois o que me fez escrever essas linhas é uma outra história.

Na série temos Thomas More como ajudante do cardeal e primeiro-ministro da Inglaterra, Wolsey. De cara me lembrei que era o escritor de Utopia, porém não consegui relacionar o ano do livro e o período na corte. Depois vim a descobrir que o livro foi escrito, em 1516 e que o ingresso na corte se deu, em 1520. Apenas contextualizando.

A história de Thomas More e bem retratada na série, o descreve como um humanista, um libertário e um grande defensor da Igreja Católica embora sempre apareça aconselhando Henrique VIII a ser tolerante com as diferenças mesmo sendo contrário as reformas protestantes que Lutero pregava e as duras críticas a Igreja.

Com o desenrolar da trama, o cardeal e primeiro-ministro cai devido as acusações de corrupção e desvio de dinheiro da corte para sua "conta particular" e Henrique VIII, convoca Thomas More a assumir o cargo.

Pois bem é a partir desse momento e quase no final da primeira temporada que chego ao âmago da questão: o poder.

Thomas More ganha poder como chanceler e a partir daí começa uma caçada incessante a todos aqueles que professam religião contrária ao catolicismo e que colocam o direito comum acima do canônico. Em uma das cenas mais contraditórias, ele queima um homem na fogueira por ser simpatizante de Lutero, ou seja, um herege.

Por que para mim é uma das cenas mais contraditórias? Porquê ele embora fosse um humanista e libertário como filósofo, ao "ganhar" poder não exitou em fazer mau uso do mesmo e de forma cruel, apenas por acreditar que o catolicismo era a única religião capaz de salvar e confortar almas.

Questiono o fanatismo de qualquer espécie, justamente por servir como justificativa para atos hediondos e reafirmo que as diferenças devem ser respeitadas independente de concordarmos ou não.

O poder quando utilizando para satisfazer e justificar crenças pessoais não pode acabar em boa coisa.

Bom quando acabar de ver a segunda temporada faço meus comentários.

Nota: o texto acima não tem a intenção de criticar ou enaltecer uma ou outra religião, pois como já escrevi devemos ser tolerantes com as diferenças. O intuito do texto é chamar a atenção para a questão do poder, única e exclusivamente.

Deixo aqui uma canção que retrata o que escrevi. Obrigada!!!

Find a Way To My Heart - Phill Colins

"This journey's not easy for you, I know
If your footsteps get too faint to hear, I'll go
Cos you know, questions are never that easy
And never the same
You have the answer believe me
If you have the faith"

8 de março de 2010

Mulher

“Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem às operárias têxteis que morreram reivindicando redução da carga horária de trabalho, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher".

Sendo assim, hoje é o Dia Internacional da Mulher. Parabéns a todas nós!

Antes mesmo de vir para o trabalho já havia recebido uma quantidade de abraços, beijos e parabéns. Minha mãe chegou com uma rosa para minha filha. Justo, já que é a mais nova representante do sexo feminino em nossa família.

Embora acredite que todos os dias são nossos, não vou criticar a escolha de uma data única para tal celebração. Aceito e agradeço, porém sempre me pego pensando sobre a nossa condição. Hoje formamos um contingente de 90% de mulheres brasileiras que trabalham fora e que cuidam dos afazeres domésticos - que ocupa em média 4 horas do dia.

Eu, particularmente, não me ocupo dos afazeres domésticos, porém incluo nessa extensa lista o criar, educar e cuidar dos filhos, o que certamente toma bem mais tempo do que as 4 horas diárias.

Temos aproximadamente 30% de lares brasileiros cujas mulheres são chefes de família, ou seja, arcam com o orçamento de seus lares. Nos últimos dez anos, houve um crescimento de 34% no número de lares cujo ganha-pão feminino é o que garante o sustento da família.

A jornada pode ser única, dupla ou tripla, não importa. O que importa é que é uma jornada que trás consigo o peso da responsabilidade.

Penso no muito que ganhamos ao longo desse muitos anos, principalmente, nos direitos que conquistamos, porém questiono o preço que pagamos, hoje, por todas essas conquistas e confesso com certa tristeza que acho excessivamente alto.

Vivemos angustiadas já que precisamos cumprir de forma exemplar todos os papéis que nos foram destinados e assim, ao longo de um único dia, somos capazes de desempenhar inúmeros papéis. E é claro que ao chegarmos ao final de cada dia nos sentimos exaustas.

Talvez, o grande aprendizado de tudo seja que o equilíbrio é fundamental e que devemos buscá-lo a qualquer custo. O equilíbrio entre a vida pessoal/familiar e profissional são fundamentais para termos uma vida mais “saudável”, plena e com mais tempo. Não é fácil, e é por isso que vivemos hoje, assim angustiadas, mas se tivermos isso como meta, talvez seja mais fácil influenciar as pessoas mais próximas e quem sabe daqui há vinte ou trinta anos, possamos deixar de legado uma vida mais feliz.

Nada contra que queimem sutiãs, que reivindiquem, que briguem, que lutem por melhorar a condição da mulher na sociedade, mas sinceramente, gostaria que tivessem me perguntado ou me dado o direito de escolher que tipo de sacrifício ou concessão, eu estaria disposta a fazer.

Fonte:
http://www.fiscosoft.com.br/indexsearch.php?PID=3000490

7 de março de 2010

A Rosa e O Espinho

Desde que se entendiam por Rosa e Espinho eram amigos. Mal conseguiam lembrar-se de quando começou a amizade. Provavelmente desde sempre.

Tudo era a Rosa e não diferente, tudo era o Espinho.

Viviam a conversar: sobre o sol, sobre a chuva, sobre a vida, sobre os dias de Rosa e os dias de Espinho.

Correram alguns anos e aquela amizade virou namoro. Namoro inocente. A Rosa ficava toda prosa e contava alegremente para as outras, as façanhas do Espinho.

A primavera chegou e Rosa de um vermelho-acetinado estava especialmente bonita. Exalava um perfume sem igual. É claro que aquela belezura toda não tinha passado desapercebida pelo Espinho, que fitava Rosa completamente enamorado.

Nuca haviam se tocado, pois Espinho tinha medo de machucar Rosa e assim, as estações passavam.

Um dia, Rosa um tanto acanhada perguntou:

- Meu doce Espinho, você nunca há de me tocar?

O Espinho com ar tristonho respondeu:

- Doce Rosa, amo você mais que tudo nessa vida e não posso imaginar vê-la sofrer. Tenho medo de tocá-la e acabar por te machucar. Para mim não existiria dor maior.

- Mas, doce Espinho, isso quer dizer que nunca poderei sentir o seu toque a me fazer carinho? Ah, querido, que triste sina a nossa.

Espinho ficou desolado com as palavras de Rosa, pois também sonhava com o farfalhar de suas pétalas em seu rosto.

Estavam em um impasse e Rosa decidiu fazer uma proposta.

- Amado Espinho, prometo que se você me tocar e doer nada te contarei. Assim, não ficarás triste.

- Linda Rosa como posso aceitar tal proposta?

- Vamos, meu Espinho. Apenas tente.

O Espinho estava resistente, mas não conseguiu aguentar por mais tempo e cedeu ao pedido da doce Rosa.

Assim foi e toda vez que o Espinho a tocava sentia dor.

O Espinho era sempre muito gentil e delicado, mas nada adiantava. Rosa sentia dor. Ele era duro, pontiagudo e afiado.

- Que ironia, Rosa pensou, ele que existe justamente para me proteger. Porém não posso contar-lhe da minha dor, pois é bem provável que morra de desgosto.

Passaram-se algumas outras estações.

O amor que Rosa sentia pelo Espinho era tão sem tamanho que logo a história correu a floresta. Conta daqui, conta de lá até que um dia chegou aos ouvidos da fada Paradis.

A fada Paradis era conhecida por sua extrema bondade e senso de justiça e quando invocada era capaz de ajudar na superação dos obstáculos mais difíceis. Ao ouvir a história resolveu ter com Rosa e esta explicou tudo tin tin por tin tin.

Após ouvir tudo com muita atenção, pediu que todos da floresta chegassem mais perto e decretou que a partir daquele exato instante, Rosa não mais sentiria dor quando seu amado a tocasse. Em toda a sua existência não tinha ouvido falar de maior prova de amor.

Assim, Rosa e Espinho viveram felizes enquanto durou.

5 de março de 2010

Quase

O que é o quase, além de perto de?

O QUASE é tudo ou nada.

Se

O que é o SE além de condicional?

Uma diminuta fração de tempo capaz de alterar rumos!

3 de março de 2010

O vestido e as flores

A menina chorava copiosamente. Tanto que seus olhos ficaram marcados pela vermelhidão. Era um choro carregado de tristeza.

A mãe olhava para a menina com ar assustado.

- Minha filha, porquê você está chorando? O que aconteceu?

A menina entre um soluço e outro com o lábio tremendo balbuciou:

- O meu vestido, mamãe, o meu vestido.

A mãe sem entender nada perguntou:

- O que aconteceu com o seu vestido?

Passando a mão suavemente em seu cabelo e a enlaçando em um abraço tentava acalmá-la.

A menina aos poucos se acalmou e conseguiu responder:

- As flores que estavam no meu vestido sumiram. Já procurei em todos os lugares, mas não encontrei. Cadê as minhas flores, mãe?

Vestido? Flores? Do que a menina estava falando? A mãe rapidamente fez uma busca nos vestidos da menina, mas não conseguiu lembrar-se de nenhum vestido com flores.

- Filha, acho que você se confundiu. Você não tem nenhum vestido com flores.

- Claro que tenho mãe! É aquele branco.

Era verdade, ela tinha dois vestidos brancos, mas eram lisos.

- Filha, os dois vestidos brancos são lisos. Não tem flores.

- Mãe como lisos? - indagou a menina danada.Não estou falando do de alcinha. Estou falando do branco com mangas bufantes.

Instalou-se a confusão. A mãe tinha certeza de que não havia flores no vestido. Foi até o armário da menina e retirou o vestido. Talvez estivesse enganada.

Ao retirar o vestido do armário estava lá: branco, liso e sem flores.

A mãe estendeu o vestido para a filha.

- Ele está aqui e não tem flores.

A menina recomeçou a chorar e perguntou:

- Mãe, você acredita em mim?

- Claro, filha.

- Então, esse vestido tem flores sim, e são lindas. São pequenas e delicadas flores do campo salpicadas por todo o vestido, mas tem uma coisa que eu não te contei. Só eu consigo ver as flores e tenho certeza que alguém tirou as minhas flores daqui.

A mãe olhou para a menina incrédula. O que era aquilo? A menina não era dada a mentiras, porém era difícil acreditar no que ela dizia.

Será que a menina tinha algum dom que ela desconhecia?

A mãe pensou em como conduzir aquela questão. Após uns dez minutos, um pouco mais calma, pediu à filha que sentasse e disse que iria explicar o que tinha acontecido.

- Sabe, filha, às vezes isso acontece mesmo. As nossas flores somem. Alguém as tira da gente, mas não dê importância a isso. Lembre-se apenas que isso acontecerá muitas outras vezes ao longo da sua vida.
As suas flores crescerão e ficarão tão bonitas que um dia, alguém vai querer pegá-las.
Deixe que as pegue e ao invés de ficar triste porque pegaram suas flores, faça novas e lindas flores.
É claro que todas às vezes que isso acontecer você ficará triste, mas também sairá fortalecida. Saiba que sempre que teimarem em tirar-lhe as flores, eu estarei ao seu lado, segurando a sua mão e a ajudando a fazer novas e belas flores.

Mãe e filha se abraçaram e assim permaneceram por um longo tempo.

Mais uma lição e vida que segue.