25 de janeiro de 2010

Trégua

- Gostaria de propor-lhe uma trégua.

Ele olhou de canto de olho e chegou até a achar graça. Pensou consigo: era só o que me faltava.

Era um dia ensolarado e eles estavam no meio de um vale verdejante. Ao fundo podia-se ver um riacho. Sim, era esse o cenário de mais uma de tantas batalhas.

Durante séculos, travavam essa batalha. Ele sempre a jogar limpo. Sinceridade era seu norte. O outro sempre a jogar sujo. Dissimulado. Esse era seu predicado.

Por inúmeras vezes se aproveitou do descuido do outro e utilizou seu golpe mais ardiloso: a rasteira. Esse sempre foi o seu melhor ataque. E agora, vinha com essa história?

- Acredite em mim. Dessa vez, estou sendo sincero. Não estou propondo o fim da batalha, apenas uma trégua. Sei que passei um bom tempo por aqui, é que eu estava de férias, mas agora, vou viajar.

- Mas como posso acreditar em você? Depois de todos esses anos, tendo que me defender das suas palavras, dos significados dissimulados nas entrelinhas. Tendo que conter a sua altivez, o seu orgulho, as suas calúnias, a sua inveja... Sinceramente, não sei se posso acreditar em você.

Passaram dias naquela discussão ...um argumentava, o outro contra-argumentava. Um explicava suas razões, o outro tinha suas contrarrazões.

Agora, encontravam-se em uma estação. O trem apitava pela segunda vez anunciando a partida e lembrando a todos que era chegada a hora da despedida.

O Mal em tom solene retira suavemente o seu chapéu, acena para o Bem, toma o seu lugar no trem e parte.

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