19 de janeiro de 2010

Saturno e as cicatrizes

Lá estava Ela mais uma vez as voltas com um livro. Esse, porém, era um daqueles livros que caem na nossa mão e mesmo sem a história ter nos envolvido, seguimos em frente.

Ela tinha decidido há muito tempo atrás que nenhum livro que parasse, em suas mãos deixaria de ser lido. E assim, começa mais uma história.

Com mencionado antes, o livro não havia tocado sua alma, porém dois fatos chamaram sua atenção.

Primeiro, a maneira como Saturno influenciava a narrativa. Não era a influência daquele Deus destruidor, aquele que rege o tempo de forma inclemente, aquele que determina o início e o fim de todas as coisas, mas o Saturno comandante das mudanças das estações. O dono do tempo, sim, mas de um tempo de crescimento, criativo, fértil.

E segundo, uma parte do livro que a fez parar, ler, reler, pensar:

"Ela só disse de uma maneira mais vaga.
- Que bom! E eu só queria era poder acreditar que é isso que você quer, de verdade...
Pronto! Pra que é que ele foi provocar chegar tão perto da zona de risco?
As feridas dela ainda estavam muito recentes, cicatriz nova, ele não tinha crédito para ficar brincando, devia lembrar o tempo todo. Estava tudo tão bom, pra que dar margem a que baixasse esse véu de tristeza de repente no olhar dela. Mas era verdade o que ele estava dizendo, ah, como ele queria que ela pudesse ter certeza de que era verdade...
- Juro que é verdade. Eu nunca te menti. Quando eu não tinha certeza, falei você sabe disso.
Era engano dele ou havia certo tom de impaciência mesmo com o carinho complacente com que ela respondeu?
- Tudo bem, não se fala mais nisso, pronto. Ainda mais agora, quase na hora de viajar. Deixa pra lá. Já ficou tudo pra trás."

Ela após ler esse trecho, fechou o livro, virou o rosto para o outro lado e as lágrimas vieram sem avisar e Ela não conseguiu reprimi-las. Realmente, a cicatriz ainda era muito recente.

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