27 de março de 2010

Domingo, Beatles e o Vizinho




Manhã ensolarada de domingo e Cris nem cogitava colocar o pé na rua. Precisava, urgentemente, arrumar a bagunça que havia se instalado em seu apartamento.

Munida de vassoura, balde e alguns produtos de limpeza resolveu começar pelo quarto. Já que a limpeza era inevitável que pelo menos fosse com música. Ligou o som, catou um dos seus vários CDs dos Beatles e colocou num volume que preenchia cada espaço da casa, ou seja, alto.

Ela cantarolava as músicas comedidamente, mas foi quando começou a tocar Help!  que sem perceber aumentou o tom e aos berros recitava o refrão: Help me if you can, I'm feeling down and I do appreciate you being round. Help me, get my feet back on the ground. Won't you please, please, help me, help me, help me, oh.

Lá pelas tantas se deu conta do quão alto estava o volume e de que certamente dali a pouco algum vizinho reclamaria. Foi até o som e abaixou um pouco o volume. Quando voltava para o quarto viu um pedaço de papel debaixo de sua porta.

Sabia, devia ser alguém reclamando. Foi até a porta, abaixou-se para pegar o papel e ficou um pouco confusa com o que leu: “Eu também preciso de alguém!”. Hein? Abriu a porta, mas não viu ninguém. No mínimo era algum vizinho mexendo com ela.

Voltou à arrumação e aos Beatles, agora de olhos fechados fazendo a vassoura de par rodopiava embalada por All You Need Is Love. Foi até a cozinha pegar água e novamente um papel. Abaixou-se para pegar e leu: “Tudo o que eu preciso é de amor!”.

Tentou se concentrar na limpeza, mas ficou encucada com as folhas de papel. Tentou lembrar-se dos vizinhos do andar, mas parava tão pouco em casa que se deu conta que não tinha a menor ideia de quem eram, salvo o casal com os dois filhos e a senhora com a acompanhante, mas e os outros três?

Seus pensamentos foram interrompidos pela campainha. Foi até a porta e olhou através do olho mágico. Cena no mínimo inusitada, um homem com uma xícara na mão parado em frente a sua porta.

- Quem é? – Perguntou.

- Oi, desculpe incomodar. Sou o Vicente, seu vizinho do 305.

Abriu meia porta e qual não foi a sua surpresa a ver o vizinho do 305. Bem, seu vizinho era uma cara de estatura mediana, cabelo bem curtinho castanho escuro, um rosto oval que estreitava-se à medida que avançava em direção ao queixo, barba por fazer e um par de olhos amendoados. Suas feições em nada eram delicadas, porém trasbordava sensibilidade e seus olhos o faziam parecer confiável. Como diria sua avô, “um pedaço de mau caminho”.

Abriu um pouco mais a porta e pensou: só falta ele dizer que precisa de um pouco de açúcar e blá blá blá. Dito e feito. Esse foi o discurso de Vicente. Foi até a cozinha e voltou com a xícara cheia. Por um segundo pensou ter visto em seu rosto um sorriso moleque. Entregou a xícara, Vicente agradeceu e virou-se em direção ao seu apartamento. Cris estava fechando a porta quando ouviu.

- Desculpe, mas não sei seu nome.

- Me desculpe você, eu nem me apresentei. Me chamo Cristiana, mas todos me chamam de Cris.

- Bom, Cris vou preparar um café fresquinho e se não estiver ocupada e puder vá tomar um cafezinho comigo.

- Ah, Vicente, muito obrigada pelo convite, mas estou aqui às voltas com uma faxina e ainda falta muito para eu acabar. Podemos deixar o café para outra ocasião?

- Claro que sim! Fique à vontade para bater lá em casa e cobrar o café.

- Pode deixar vou cobrar mesmo.

Se despediram e Cris fechou a porta. No instante em que entrou no apartamento, começou a falar em voz baixa: Por que você não aceitou o convite? Que história é essa de faxina? Você achou ele atraente, pode confessar. Ao mesmo tempo em que perguntava respondia: Eu nem o conheço, como posso ir à casa de um homem que nunca vi em minha vida. E se ele for um psicopata? Não, eu não podia fazer isso. E ficou assim por uns cinco minutos.

Passada a discussão consigo mesma, e já tendo mesmo recusado o convite resolveu se concentrar na faxina. Afinal não era esse o seu programa de domingo?

Para sua surpresa, uma música em volume absurdo começa a tocar e invade o apartamento. Não é possível falou Cris, agora em voz alta. Em alto som era possível escutar:Help me if you can, I'm feeling down and I do appreciate you being round. Help me, get my feet back on the ground. Won't you please, please, help me.

Correu para pegar uma folha de papel, escreveu rapidamente algumas palavras, abriu a porta e empurrou o papel para debaixo da porta do 305. Correu para o seu apartamento.

Ficou olhando para a porta como se quisesse hipnotizá-la. Uns cinco minutos depois, uma nova folha de papel aparecia por debaixo de sua porta. “O café está fresquinho. Estou apenas esperando a sua visita”.

Tomou um banho voando, colocou um vestido levinho, sua sandália havaiana e bateu na casa de Vicente.

O domingo varou a madrugada e correu regado a Beatles, um belo almoço preparado por Vicente, cafezinho, risadas e mais tarde um vinho e um bom papo.

Depois daquele domingo, as vidas de Cris e Vicente se entrelaçaram.

Como não poderia faltar, a trilha musical de Cris e Vicente:

16 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhosa a sua postagem amiga.
As vezes a oportunidade de ser feliz bate a nossa porta e a gente ignora sem saber o q realmente está indo embora.Essa foi esperta, acordou a tempo rs.
Beijokas e parabéns,eu amei.

Entre Nous disse...

Linda! Adorei a história... É impressionante como a música nos inspira sem percebermos.

Bela descrição do vizinho cara de pau.

Beijuu

C@uros@ disse...

Olá minha cara amiga Isadora, adorei, que belo intelaçar amoroso,muito bom, domingo para não se esquecer.

Paz e harmonia,

forte abraço

C@urosa

Pelos caminhos da vida. disse...

Viver...

De bem com a vida
Amando as pessoas
De todas as formas
É um detalhe que faz
toda a diferença!

Tenha uma semana maravilhosa!!!

beijooo.

disse...

Isaaa!! Não acredito em felicidade plena...acredito em momentos felizes..e são esses que devemos aproveitar ao maximo e deixar guardados na lembrança pra sempre!!!
Obrigada pela visitaaa!!
Seu blog é lindo!! Voltarei!!
Bjusss

Ricardo Rangel disse...

Maravilhoso texto.Quisera eu que meu amor morasse ao lado, enviaria milhoes de bilhetinhos como os que vicente enviou.

A felicidade mora ao lado...e a minha tão distante.

Beijos .

Felina Mulher disse...

Ulalá...que belo vizinho, quero dizer que bela história.E eu ia lá querer saber de faxina, adoraria beber um cafezinho...kkkkkkkkk


Beijos Isa....Bom domingo.

εїз ViViAn ★ Sbrussi /(",)\ disse...

Oieeee amiga!
vim agradecer a sua doce visita em meu blog!
vc é um amor!
volte sempre!

=► FELIZ PÁSCOA ◄=

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Anônimo disse...

Aii era bom que fosse assim, ter um vizinho lindo morando mesmo ao lado ;)

Gostei da história!

Bjs

Isadora disse...

Obrigada a todos pelas palavras tão gentis e uma ótima semana.

Felina Mulher disse...

beijos menina Isa....uma semana de muitas realizações!

Flavio Ferrari disse...

Que história bonitinha ...
Muito convincente, o Vicente ...

Ricardo e Regina Calmon disse...

Pô Isadora ,amada pessoa amiga,se eu começar a bater nas das vizinhas portas ,minha mulher me mataaaaaaaaaaaaaaaaaa!mas huhu,só queria cafézinho oferecer!

bzu no cuore pessoa querida nossa!

viva
LA VIDA

angela disse...

Que delicia de conto!As vezes o prinipe encantado bate a sua porta.
beijos

Aline disse...

Escutar Beatles sozinho é bom, acompanhado é excelente! hehe Beijoss

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia, Isadora.
Já havia comentado sobre esse texto, lá no outro espaço, porque não havia conseguido aqui.

Bela história. Foi como se eu estivesse assistindo um filme.

Um grande abraço.