23 de maio de 2011

Quando a luz dos olhos seus...



Maria José desde criança carregava consigo um olhar cinza, duro e triste. Nasceu no interior de Pernambuco e morava com os pais e mais quatro irmãos, em uma casa de apenas três cômodos.

Os pais e os dois irmãos mais velhos eram bóias-frias. Ela ficava em casa cuidando dos menores. A vida era miserável e muitas vezes o que restava para comer era farinha torrada.

Os anos passaram e pais e filhos iam para a lavoura. O que recebiam mal dava para o sustento da família. Quando passou a receber seu dinheiro, uma parte destinava a ajudar em casa e outra parte guardava, em uma lata de leite. Tinha um sonho: ir para a cidade grande, largar aquela vida miserável e quem sabe passar a ter um olhar menos cinza entristecido.

Uma tia trabalhava em uma casa de família, no Rio de Janeiro, e com o consentimento dos pais escreveu para a tia perguntando se ela poderia lhe oferecer moradia até que conseguisse um emprego. A tia que vivia sozinha, em uma pequeno casa no subúrbio aceitou receber a sobrinha. E com dezesseis anos, Maria José despediu-se dos pais e dos irmãos e veio tentar a sorte na cidade grande. Carregava consigo um olhar cinza chumbo entristecido.

Mal sabia ler e escrever, mas estava decidida a arrumar um emprego e estudar. Foi ao chegar, ao Rio de Janeiro, que a perspectiva de seu olhar começou a transformar-se. Ainda carregava o olhar cinza entristecido, mas agora, era de saudade dos pais e dos irmãos.

Por sorte, logo conseguiu um emprego como auxiliar de limpeza, em um supermercado e com o dinheiro que recebia conseguiu cursar, à noite, o supletivo e ainda mandar um pouco para seus pais.

Em um ano e meio concluiu o ensino médio e foi promovida. Passou a atendente, na padaria, do supermercado. O salário melhorou e com isso, a quantia enviada todos os meses para os pais. O olhar andava ainda mais cinza entristecido, pois a saudade era grande e dessa vez sonhou mais alto: trazer toda a família para o Rio de Janeiro.

No supermercado conheceu Zé Carlos que trabalhava como subgerente e este arrebatou seu coração. O primeiro e único amor de toda a sua vida. O rapaz era de origem humilde, mas muito respeitador e fez questão de ir à casa da tia da Maria José pedir-lhe em namoro. A Tia consentiu e os dois namoravam sentados, no sofá da sala vendo televisão.

Tomada pelo encanto e completamente enamorada, o olhar cinza entristecido, de Maria José transformou-se em um lindo arco-íris: verde esperança que logo virou vermelho paixão que passeava com o amarelo felicidade, e, que com o passar dos meses rumou para um rosa amor, de mãos dadas com o azul calma culminando com o olhar branco de paz.

Toda essa paleta era por causa de Zé Carlos? Sim e também. Em um ano se casaram e alugaram uma casinha perto da Tia. O noivo sabendo do sonho de Maria José de reunir toda a família, não se fez de rogado e trouxe todos para o casamento.

Depois todos voltaram? Não. Os dois alugaram uma casa por perto, também, para toda a família e em pouco tempo os dois irmãos mais velhos já estavam empregados e as duas menores estudando. O pai que não era homem de ficar em casa arrumou uns biscates. Todos viviam com sacrifício, mas a vida, sem dúvida, se apresentava bem melhor e Maria José que desde cedo carregava olhos cinza entristecidos nunca mais os reconheceu.

5 comentários:

Roberta Fraga disse...

Belo texto! E com final feliz!

Tati disse...

Que delicadeza de conto. E com final feliz! Amei!!
Esta é uma história que se repete diariamente, quantas Marias José nós conhecemos, não é? Mas nem sempre o final é tão feliz!
Um beijo cor de arco íris!

chica disse...

Que lindo conto,Isadora...Bela trajetória e deu tudo certo...beijos,chica

orvalho do ceu disse...

Olá, querida Isa
Conto de fadas me pareceu... mas acredito neles, sabia???
Por incrível que possa parecer...
Bjs de paz e uma nova semana iluminada.

VELOSO disse...

São tantas Marias e tantos caminhos... Gosto deste contos que mostra que ainda há esperança neste mundo tão cinza!