29 de agosto de 2014

Das coisas que eu sabia


Sábado de manhã, o sol ameaçou aparecer e Ana pulou da cama. Ainda sentada pensou no motivo pelo qual não ficou deitada mais um pouco. Não tinha que sair para trabalhar, não precisava fazer faxina na casa, não tinha marcado nada com ninguém. Por quê? Por quê? Nem ela conseguia encontrar um motivo plausível. Talvez, o nada para fazer pudesse ser um motivo. Ultimamente era o que ela menos tinha: algo para fazer e juntando a isso a total falta de vontade de arranjar o que fazer.

Ela sabia muito bem disso, ma preferia não pensar. Dava menos trabalho, mas ainda que quisesse ignorar o que estava acontecendo uma solução gritava por ela, e urgente.

Ana vivia em conflito, se confrontando.  Uma luta entre o que ela queria esquecer e o que precisa de uma solução. O ditado é sábio: a vida continua, mas parava aí. Onde estava o resto? Cadê o complemento: como continua?

Há dois meses que vivia sem força, sem chão, sem rumo, sem graça, sem saída. Vivia disfarçada de uma felicidade que não tinha. Como andava lhe caindo mal. Era certo que não encenava bem, o papel de mulher madura cujo casamento de 05 anos tinha acabado e estava tudo bem.

Não estava tudo bem.  Além disso, ela não tinha a menor ideia de como fazer tudo ficar bem.

Passou o dia de pijama, chorando, vagando pelos cômodos da casa tentando encontrar uma resposta, mas lá no fundo sabia que não era o momento de respostas, de disfarces, de virar a página. Era o momento de chorar, de lastimar, e, principalmente de vivenciar o luto. Assim seria. Iria até o fundo do poço e depois ressurgir das cinzas como a Fênix.


Sobre a lenda: Ela surgiu no Egito antigo, milhares de anos antes de Cristo, representando a imortalidade e os ciclos da natureza. Segundo o mito, quando sentia que ia morrer, a fênix montava um ninho com incenso e outras ervas aromáticas para ser incinerada pelos raios do Sol. De suas cinzas, nasceria uma nova ave. Assim que se sentia forte, a nova fênix embalava as cinzas de onde surgiu em um ovo de mirra e o transportava para o templo do deus Rá, na cidade de Heliópolis.

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