4 de janeiro de 2012

A arte de esperar



Uma amiga (blog Mulher de Fases) compartilhou esse texto do Antônio Prata e ao ler, o mesmo caiu como uma luva. Imagino que assim como para mim, o texto trará igual sensação.
O bem mais valioso de nossa época não é o diamante nem o petróleo, a fórmula da Coca-cola ou o sorriso da Natalie Portman: é o tempo. Obedecendo à lei da oferta e da procura, quanto mais escasso ele fica, mais caro nos é. A seca temporal é geral e irrestrita, tão democrática quanto a calvície, a saudade e a morte: eu não tenho tempo, você não tem tempo, o Eike Batista não tem tempo, o cara que está vendendo bala no farol, em agônica marcha atlética para recolher os saquinhos dos retrovisores, antes que abra o sinal, também não tem. 
Como vocês devem saber, o principal sintoma desta doença crônica – sem trocadilho - é a ansiedade. Toda manhã, flagro-me aflito, escovando os dentes, com pressa. Vejo-me batendo os pés no hall, enquanto o elevador não chega. Até o segundo que o cursor do celular leva para piscar, num SMS, permitindo-me digitar outra letra da mesma tecla, deixa-me exasperado.(...)

(...)Há quem diga que a culpa é da melhora das comunicações e, consequentemente, do envio de dados. Com a informação viajando tão rápido, desaprendemos a arte da espera. Antigamente, aguardar era normal. Estávamos sempre esperando alguma coisa chegar. Uma carta, pelo correio. Um disco, do exterior. Uma foto, um texto ou um documento, via portador. Esses hiatos eram tidos como normais, uma brecha saudável, pausa para o cigarro ou o café, a prosa, a leitura de uma revista, o devaneio, a conversa na janela, a morte de bezerra. Hoje, não. Tá tudo aqui, e, se não está, nos afligimos. Queremos o pássaro na mão E os dois voando. Por que é que ainda não trouxeram esses dois que tão no céu, diabo?! Já não era melhor ter pego logo os três, de uma vez, otimizando custos e esforços?

Enquanto não descobrimos a cura para este mal, a única saída é aprender a lidar com ele. Há que cercar com muros altos certas horas do relógio, para que nada as possa roubar de nós. Fazer diques de pedra em torno da hora de ficar com nosso amor, da hora de trabalhar no projeto pessoal, da hora do esporte, de ler um livro, encontrar um amigo. Mesmo assim, vira e mexe, vêm as obrigações, como um tsunami, ou os eventos sociais, como meteoros, e derrubam as barragens. Não há nada a fazer, senão reconstruir os muros, ainda mais fortes do que antes.

Você sente a mesma coisa, ou sou só eu? Talvez seja só eu. Quem sabe, numa manhã de terça-feira, lá por 1998, eu tenha perdido a hora, para nunca mais a encontrá-la? Ficarei assim, trinta minutos atrás do resto do mundo, tentando alcançá-lo, ininterruptamente, como quem corre atrás de um trem, até o fim dos tempos. Será que foi isso?
 
 (Antonio Prata)

3 comentários:

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Isadora

Obrigado pela visita, pelas palavras...eui to dentro desse texto...sempre na correria...eita vida...temos sim que nos policiar...nos dar um tempo para nos mesmos...to com tres livros pra ler...to doido pra tomar um sol...sabe...sol...sol...rs...to precisando urgente de um Sol...to mais branco que a bunda do Sivuca...não pode uma coisa assim...rs
belo texto que nos faz refletir e muito
Um abraço na alma...bjo

She disse...

Excelente texto! Fiquei aqui pensando nesse corre-corre danado da vida... ;)
Beijo, beijo

Graça Pereira disse...

Um texto deveras interessante para todos nós que corremos de manhã até à noite e acabamos por descobrir que, afinal, o tempo náo chega para tudo!!
Beijos e um bom ano de 2012!
Graça