18 de abril de 2011

Gosto de fruta




Estava ali, logo ali, bem pertinho. Se estendesse um pouquinho mais as mãos poderia tocá-las. Se viu inebriado pelo cheiro e pela cor que tinha aquele lugar.

Aquele era moleque dos bons. Saiu correndo, trepou no pé de romã e pôs-se a catar. Descascou a fruta e qual não foi a surpresa ao ver que suas sementes pareciam jóias guardadinhas cada uma em um compartimento. Mal havia acabado de devorar a fruta e foi direto para o pé de jabuticaba e pegou as mais firmes e brilhantes e se deliciou com aquelas frutinhas roxinhas.

Será que devia guardar algumas para levar para casa? O pensamento nem teve tempo de firmar, pois logo avistou um pé de maracujá. Partiu um ao meio e nem pensou duas vezes foi com semente e tudo. Nossa, que fruta azedinha.

Começou a andar lentamente, já que o estômago passou a pesar. Ficou pensando quantas frutas havia naquele lugar. Contou pelo menos uns doze tipos diferentes e se deu conta de que ali era um pomar.

Agora, que descobri esse lugar sempre hei de voltar e amanhã trarei comigo, o meu amigo, Zilmar. Ainda tinha meia hora até os pais darem por sua falta e resolveu que iria aproveitar. Pegou uma manga, duas mangas, três mangas e pôs-se a chupar.

Depois de toda essa comilança precisava descansar. Se acomodou à sombra da frondosa mangueira e um cochilo começou a tirar.

                                                 O MEU POMAR

Se eu tivesse um pomar, um pequeno pomar que fosse,
não lhe poria grade à roda como os outros proprietários.
Não poria a guardá-lo, um desses cães enormes, rancorosos,
que andam sempre rondando os pomares...
O meu pomar seria assim: todo aberto, para todos.
E, quando o outono chegasse e as árvores ficassem cheias de frutos amarelos
e vermelhos, nenhum pobrezinho teria fome,
nenhuma criança choraria de sede, passando pelo meu pomar...
E, no inverno, ainda haveria lá onde alguém se abrigasse,
quando chovesse muito ou fizesse muito frio...
Se eu tivesse um pomar, ele estaria sempre em festa,
cheio de borboletas e pássaros...
Como eu seria feliz, se  tivesse um pomar!
 
(Cecília Meireles)

10 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Isadora
Se deliciar em um pomar, é privilégio de poucos, quando isso é possível, tem realmente que aproveitar.
Bjux

chica disse...

Eu adoraria ter um pomar e sentar debaixo dele, apreciar...Lindo! beijos,chica

Maria Célia disse...

Olá Isa, tudo bem?
Que lindo texto, o garoto ficou doido com tanta fruta, não sabia qual comer.
O poema da Cecília é lindo.
Na casa da minha irmã é assim, são tantas frutas, ainda bem que a safra delas é diferente.
Bjo

diariodumapsi disse...

Oi Isa!
Que delícia de post! Traz nele um simplicidade inebriante!
Esses versos de Cecília foi a cereja do bolo!
Gd beijo

Palavras Vagabundas disse...

Isa,
quero um pomar!
Boa semana.
bjs
Jussara

welze disse...

existe coisa ou lugar melhor que um pomar? se existem, são poucas. adoro tudo isso. bom dia!

mfc disse...

Um pomar de beleza que nos trouxeste hoje!
Muito bonito.

Caca disse...

Eu já fui um defensor de arborização das cidades com árvores frutíferas. O argumento contrário é o de que sempre provocará muita sujeira nas ruas. Quem dera se toda a sujeira urbana fosse de frutos, hein? Abraço grande, Isadora. Paz e bem.

Sandra disse...

Isaaaaaaaa!

Que saudade!

Passei pra te deixar um super beijo e desejar uma feliz páscoa a você e toda a sua família! :)

Aproveito pra te convidar a participar de uma idéia super legal que eu tive.
Segue o link:

http://migre.me/4iKXn

Beijo grande!

Mariana disse...

Me senti convidada para ir neste lindo pomar.
Grande Cecília Meireles.
Tenhas uma Pascoa abençoada.