19 de fevereiro de 2010

Caminhos

Agora, Ela tinha certeza: estava perdida.

Olhou para os lados atônita. A pergunta ecoava em sua cabeça “- Para que lado devo seguir?"

Maldita hora que resolveu fazer aquela caminhada.

Achou que seria fácil. Já tinha feito aquela mesma trilha algumas vezes e não entendeu como foi se perder.

Ficou olhando ao redor tentando encontrar algo que sinalizasse o caminho que deveria seguir, mas nada. Não tinha a menor ideia de onde estava nem para que lado ir.

Um desespero tomou conta do seu corpo. Seu coração começou a bater descompassado. Era medo o que Ela sentia. Estava sozinha. Retornar ao início ou chegar ao final?

Tentou manter a calma, esta seria a sua maior aliada, mas não conseguia. Estava no limite de suas forças. Suas pernas começavam a fraquejar, sentia um cansaço. Pensou em desistir.

Encostou-se em uma grande árvore e abaixou lentamente. Entrelaçou os joelhos com as mãos e apoiou a cabeça. Assim permaneceu durante alguns minutos.

Começou a refazer mentalmente o caminho, mas não conseguia se concentrar, não concatenava.

Era a terceira vez que fazia a longa caminhada.

Da primeira vez, seis quilômetros foi a distância percorrida do início ao fim.

Na segunda, a distância que separava o início do fim foi um pouco maior, dez quilômetros. Parara para admirar alguns lugares pelos quais passava. Era uma época calma e podia percorrer a trilha sossegada.

Agora, já tinha caminhado pelo menos uns três quilômetros. E tinha a certeza solitária que dessa vez o caminhar era diferente. Sabia disso, desde o início, mas ainda assim, decidiu seguir.

Nas outras vezes, tinha certeza sobre o caminho a seguir. Sabia que ao entrar na trilha, primeiro passaria pelo igarapé, seguiria e chegaria ao grande vale. Mais a frente seria possível avistar a clareira e mais alguns bons minutos caminhando se depararia com a suntuosa cachoeira. Aí mais algumas horas e terminaria a trilha.

Nessa caminhada chegara apenas ao vale. Depois disso se perdeu.

As lágrimas desciam como torrente, mas falava para si mesma: - seja corajosa, pare, preste atenção nos sinais, escute.

Só escutava o canto dos pássaros e o uivo do vento ao passar por galhos e folhas. Sinais? Quais?

O dia ameaçava trocar juras com a noite e logo aquele céu escarlate se tornaria de um azul profundo.

Em um arroubo de coragem, secou as lágrimas com a mão, ergueu a cabeça, endireitou os ombros, ajeitou uma mecha de cabelo que teimava em cair atrás da orelha e disse para si mesma: - Decida agora. Você só tem duas alternativas: retornar ao ponto de partida ou seguir. O que você decide? Pensou por alguns segundos. Analisou rapidamente prós e contras e fez sua escolha. Seguir.

Tinha entrada ao Norte da trilha e sabia que deveria seguir até o Sul. Devia traçar uma linha reta. O sol teimava em se pôr e nessa época do ano, ele se esconderia ao Oeste. Logo, era seguir o Sol.

Assim foi. Andou muitos metros sem a certeza de ter tomado o caminho certo, porém continuou. De repente, um sorriso tomou conta de seus lábios. Lá na frente, lá na frente - gritava eufórica. Tinha avistado a clareira. Um torpor tomou conta de seu corpo. Alívio era o que sentia. Sabia agora como chegar ao final da trilha. Relaxou e começou a caminhar lentamente. Olhava para tudo. Tinha agora, um novo olhar. Mais complacente, mais calmo, mais observador, menos assustado.

Quantos quilômetros faltava para chegar ao final da trilha? Nem Ela sabia. Cada caminhada era única, podia demorar mais ou menos tempo e dependia de tanta coisa. As caminhadas anteriores tiveram início, meio e fim e duraram o tempo necessário. Essa, pensou, ainda está no começo.

O que a desesperou foi ter se perdido, não mais saber o caminho. É preciso sempre saber como chegar ao final da trilha quando e se isso for necessário.

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