Sem pressa, o tempo passava na pequena cidade de Jurana. Com pouco mais de 2.000 habitantes, encontrava-se incrustada em um vale e aos seus pés corria o Rio Taquaraçu.
Em suas ruelas e esquinas, em suas casas centenárias guardava-se um segredo: a bondade daquela gente.
Antônio e Pedro conversavam animadamente na porta do armazém.
Pedro era filho do Dr. Eusébio, o médico da cidade e de dona Cecília, a doceira, e que doceira! Era daquelas de mão cheia e a essa hora andava as voltas com o bolo e os docinhos para a festa da pequena Mariana.
Mariana era a filha caçula do seu Roberto e da dona Sueli e irmã do peralta Bentinho. A família morava em uma pequena chácara e era lá, plantando café e fumo e vendendo no Depósito Central que seu Roberto tirava o sustento da família.
O Armando que conversava com Pedro era filho do seu João, o dono do armazém. Há muitos anos, o velho João tinha herdado o estabelecimento do seu pai e era lá que todas as famílias da pequena cidade faziam a provisão do mês. Lá se contrariava o ditado, pois tinha uma placa bem grande com os dizeres: “Aqui se vende fiado e paga-se quando pode.” E quem pensa que seu João deixava de ganhar dinheiro estava muito enganado. Essa cidade era de gente honesta que tão logo ganhava o seu dinheiro, corria a honrar com as dívidas. E o Armando, claro, seguia os passos do pai.
Toda a semana, dona Silvinha passava pelo armazém e Seu João pensava com certa tristeza na vida daquela senhora. Tinha chegado aos 75 anos, e vivia sozinha na cidade. Seu Jacinto falecerá há 06 anos e os três filhos haviam deixado a cidade para tentar a vida na capital. Pouco apareciam por lá. Morava em uma casa simples, de esquina e do alto de seus 75 anos, era uma das melhores rezadeiras da redondeza. Guardava até hoje, o segredo da mistura das ervas passado por sua avó. Quem podia pagar, pagava e os que não podiam, ela rezava de graça. Seu lema era: “Para os males, reza, ervas medicinais e uma dose generosa de carinho.”
Ainda tinha o padre Clemente que reunia a todos, nas manhãs de domingo e enchia de alegria o coração das pessoas com seus sermões bem-humorados. E também, a professora Luiza, moça nova, que resolvera abandonar a loucura da cidade grande pela tranqüilidade e simplicidade daquela cidade.
Ah, e como se esquecer do Prefeito Sebastião que desde o mês passado não fazia outra coisa que não fosse inspecionar as obras, do Posto Médico (o Dr. Eusébio estava atendendo em casa e estava difícil dar conta de todos). Para ele os habitantes daquela cidade eram muito mais que apenas eleitores. Eram amigos, vizinhos, tios, irmãos, sobrinhos. Já a sua mulher, Aurora, tinha por hábito, se prostrar em sua varanda com seu cesto abarrotado de novelos e agulhas e de ponto em ponto do seu tricô, apreciava o vai e vem das pessoas, na rua central.
E a praça? Toda cidade que se preze, grande ou pequena tem uma praça e era lá, em meio às árvores frondosas, que a criançada se divertia sobre o olhar atento dos mais velhos.
Texto escrito por mim e publicado em 02 de fevereiro de 2010.
26 comentários:
Isa que lindooo...
Lá vem vc deixando esse gostinho de quero mais né? Sua danada! rs.
Vc já escreveu algum livro flor?
Se não é um baita desperdício de talento viu? Aff...rs.
Beijinhos florzina e uma linda semana pra ti.
Flores e Luz.
Muita criatividade viu...belo enredo.
abraços
de luz e paz
Hugo
Maravilhoso Isadora.
Me fez relembrar um pequena cidade que morei quando garotinha, não lembro muito, mas a praça nunca esqueci.
Boa semana
xeros
Isa, dá o endereço... quero me mudar para lá!!! Hehehe
Que cidade gostosa e pacata, quantos personagens simpáticos! Comece o livro!!! Eu já quero conhecer o destino destas pessoas, acompanhar suas histórias!
Você escreve de um jeito que a gente consegue imaginar cenários, sentir cheiros... Tão bom!
Um beijo.
Oi Isadora! :)
Eu cá acho que cidades pequenas tem sempre um certo charme, ternura e encanto!
Bonita história essa.
Beijo
Isadora, até parece uma das muitas cidadezinhas mineiras, por onde estou sempre passando. E rio Taquaraçu eu conheço! Tem um por essas bandas da região metropolitana de Belo Horizonte, próximo a uma cidadezinha chamada Taquaraçu de Minas.
Esse seu texto reclama continuidade. Os personagens já foram apresentados. A nossa curiosidade já foi atiçada.
Então...
Abraços!
É verdade, o Gilmar tem razão.
Ah, e não se esqueça de dizer onde fica a hospedaria,( no caso de algum de nós passar por lá ), nunca se sabe, não é mesmo...?
Ótima fluência...!
Beijos.
Oi, Isa
Que hitória linda!!!
Tão real.
Pena que já não existem cidades e povos tão queridos. Ficaram só nos livros e nas memórias.
Vc tem uma grande capacidade de nos transportar a eles.
Não tem continuação?
Amei!
Bjs no coração!
Nilce
Meus amigos é tanta a generosidade que encontro por aqui. O sorriso aparece cada vez que vejo um comentário.
Na verdade, a história não tem continuação, ou, pelo menos ainda não tem.
Quando escrevi até pensei nisso, mas na correria dos dias se perdeu. O que nada impede que eu resgate. Vamos ver....
Um beijo a todos e sempre obrigada por todo o carinho
Como disse Tati, também quero o endereço, viu?
Ai que cidadezinha gostosa!
Sentar na pracinha no fim de tarde, observando o movimento sem pressa de ir a lugar algum...um sonho...
E cada canto da cidade esconde uma nova história...
Fique com Deus, menina Isadora.
Um abraço.
" Tempo bom, não volta mais, saudade tanto tempo faz.."" Lilico.
Tanto mudou que a cidade passou para outra realidade.
Excelente texto Isadora, que eventos estás guardando para os próximos dias?
Beijo pra vc.
Parece com a época da minha infância e não era na cidade pequena, mas tinhamos esta simplicidade e intimidade. Bons tempos....Hora da saudade.
bjs
Isa, lindo seu texto!
Concordo com os demais, acho que tem muita história para contar de cada um, porque não?
Vc escreve de forma le e quando a gente viu já está no final e com certeza quer mais...
Cadê?
Bjs
Espero que se empolgue para continuar...
Boa semana e fica em paz!
Bem sei o que é uma cidade pequena... todos os seus prazeres e... porque não dizer... seus desprazeres.
Vim de lá do blog da Andrea te conhecer... e te prestigiar.
AbraçozZz
Isadora, passei boa parte de minha vida morando no interior (aliás sou nascido no interior). Voltava para lá, depois vinha para a capital e vice-versa. Até hoje eu possuo uns hábitos que fico querendo transmitir aqui na selva de pedra, como generosidade, tolerância, amizade, mas aqui é tão difícil... Adorei sua crônica! Meu abraço. Paz e bem.
Olá querida Isadora, que saudade de tempos passandos, não muito distantes, a vida caminhava lenta e feliz.Parabéns pelo belo texto.
forte abraço
C@urosa
Ah que texto maravilhoso.
parabens viu?
Bjos achocolatados
Concordo, é um bom texto carioca, daqueles tempos onde o que valia era o tal fio do bigode. Algo que nos dias de atuais está fora de moda.
Pensando nesse saudosismo, também estou escrevendo sobre o amor de antigamente. Porque saudade não tem idade e vale a pena ver de novo.
Saudações.
Amiga, vc me levou de volta à minha infância, às férias no interior como eram boas... Ahhhh, saudade!!!
Bjs, amiga, e obrigada!
Olá Isadora
Voltei.
As férias estavam ótimas, mas a saudade era grande.
Beijos
Defato, aquelas cidades velhas, onde o tempo nunca passa...
Parecem que as pessoas são as mesmas, conservadoras, e bondosas, e humildes...
=D
Isadora
cidade pequena dá tantas histórias nao é?
e é tão bom passar uns dias por lá , uma gente diferente dos da cidade, mais calmos, amigos , sabem da vidinha uns dos outros ( até mais do que devia rsrs) , muito interessante.
Sempre tem esse riozinho numa cidadezinha do interior, a minha tem lá o meu rio.
adorei o conto, viajei por lá com os personagens.
deixo abraços e um bom dia
que delícia viajar nas suas palavras. valeu o dia, a semana!
Olá, amiga
Gostei muito do seu post, amo cidades pequenas. Tem um quê de simplicidade inigualável.
Bjs na alma e serenidade.
Isa, que delícia de texto!
Me transportei com as palavras para um bairro do Rio onde morei quando criança - a vida era assim também nos subúrbios cariocas, cheios de famílias de portugueses, italianos, brasileiros de boa índole e educação de berço.
Parabéns, você já tem muitos leitores para seu novo livro!
bjs cariocas
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