2 de agosto de 2010

Coisas de cidade pequena


Sem pressa, o tempo passava na pequena cidade de Jurana. Com pouco mais de 2.000 habitantes, encontrava-se incrustada em um vale e aos seus pés corria o Rio Taquaraçu.

Em suas ruelas e esquinas, em suas casas centenárias guardava-se um segredo: a bondade daquela gente.

Antônio e Pedro conversavam animadamente na porta do armazém.

Pedro era filho do Dr. Eusébio, o médico da cidade e de dona Cecília, a doceira, e que doceira! Era daquelas de mão cheia e a essa hora andava as voltas com o bolo e os docinhos para a festa da pequena Mariana.

Mariana era a filha caçula do seu Roberto e da dona Sueli e irmã do peralta Bentinho. A família morava em uma pequena chácara e era lá, plantando café e fumo e vendendo no Depósito Central que seu Roberto tirava o sustento da família.

O Armando que conversava com Pedro era filho do seu João, o dono do armazém. Há muitos anos, o velho João tinha herdado o estabelecimento do seu pai e era lá que todas as famílias da pequena cidade faziam a provisão do mês. Lá se contrariava o ditado, pois tinha uma placa bem grande com os dizeres: “Aqui se vende fiado e paga-se quando pode.” E quem pensa que seu João deixava de ganhar dinheiro estava muito enganado. Essa cidade era de gente honesta que tão logo ganhava o seu dinheiro, corria a honrar com as dívidas. E o Armando, claro, seguia os passos do pai.

Toda a semana, dona Silvinha passava pelo armazém e Seu João pensava com certa tristeza na vida daquela senhora. Tinha chegado aos 75 anos, e vivia sozinha na cidade. Seu Jacinto falecerá há 06 anos e os três filhos haviam deixado a cidade para tentar a vida na capital. Pouco apareciam por lá. Morava em uma casa simples, de esquina e do alto de seus 75 anos, era uma das melhores rezadeiras da redondeza. Guardava até hoje, o segredo da mistura das ervas passado por sua avó. Quem podia pagar, pagava e os que não podiam, ela rezava de graça. Seu lema era: “Para os males, reza, ervas medicinais e uma dose generosa de carinho.”

Ainda tinha o padre Clemente que reunia a todos, nas manhãs de domingo e enchia de alegria o coração das pessoas com seus sermões bem-humorados. E também, a professora Luiza, moça nova, que resolvera abandonar a loucura da cidade grande pela tranqüilidade e simplicidade daquela cidade.

Ah, e como se esquecer do Prefeito Sebastião que desde o mês passado não fazia outra coisa que não fosse inspecionar as obras, do Posto Médico (o Dr. Eusébio estava atendendo em casa e estava difícil dar conta de todos). Para ele os habitantes daquela cidade eram muito mais que apenas eleitores. Eram amigos, vizinhos, tios, irmãos, sobrinhos. Já a sua mulher, Aurora, tinha por hábito, se prostrar em sua varanda com seu cesto abarrotado de novelos e agulhas e de ponto em ponto do seu tricô, apreciava o vai e vem das pessoas, na rua central.

E a praça? Toda cidade que se preze, grande ou pequena tem uma praça e era lá, em meio às árvores frondosas, que a criançada se divertia sobre o olhar atento dos mais velhos.

Texto escrito por mim e publicado em 02 de fevereiro de 2010.

26 comentários:

Mônica - Sacerdotisa da Deusa disse...

Isa que lindooo...
Lá vem vc deixando esse gostinho de quero mais né? Sua danada! rs.
Vc já escreveu algum livro flor?
Se não é um baita desperdício de talento viu? Aff...rs.
Beijinhos florzina e uma linda semana pra ti.

Flores e Luz.

Hugo de Oliveira disse...

Muita criatividade viu...belo enredo.


abraços
de luz e paz


Hugo

Misturação - Ana Karla disse...

Maravilhoso Isadora.
Me fez relembrar um pequena cidade que morei quando garotinha, não lembro muito, mas a praça nunca esqueci.

Boa semana
xeros

Tati disse...

Isa, dá o endereço... quero me mudar para lá!!! Hehehe
Que cidade gostosa e pacata, quantos personagens simpáticos! Comece o livro!!! Eu já quero conhecer o destino destas pessoas, acompanhar suas histórias!
Você escreve de um jeito que a gente consegue imaginar cenários, sentir cheiros... Tão bom!
Um beijo.

Anônimo disse...

Oi Isadora! :)

Eu cá acho que cidades pequenas tem sempre um certo charme, ternura e encanto!

Bonita história essa.

Beijo

Gilmar disse...

Isadora, até parece uma das muitas cidadezinhas mineiras, por onde estou sempre passando. E rio Taquaraçu eu conheço! Tem um por essas bandas da região metropolitana de Belo Horizonte, próximo a uma cidadezinha chamada Taquaraçu de Minas.

Esse seu texto reclama continuidade. Os personagens já foram apresentados. A nossa curiosidade já foi atiçada.

Então...

Abraços!

MERU SAMI disse...

É verdade, o Gilmar tem razão.
Ah, e não se esqueça de dizer onde fica a hospedaria,( no caso de algum de nós passar por lá ), nunca se sabe, não é mesmo...?
Ótima fluência...!

Beijos.

Nilce disse...

Oi, Isa

Que hitória linda!!!
Tão real.
Pena que já não existem cidades e povos tão queridos. Ficaram só nos livros e nas memórias.
Vc tem uma grande capacidade de nos transportar a eles.
Não tem continuação?
Amei!

Bjs no coração!

Nilce

Isadora disse...

Meus amigos é tanta a generosidade que encontro por aqui. O sorriso aparece cada vez que vejo um comentário.
Na verdade, a história não tem continuação, ou, pelo menos ainda não tem.
Quando escrevi até pensei nisso, mas na correria dos dias se perdeu. O que nada impede que eu resgate. Vamos ver....
Um beijo a todos e sempre obrigada por todo o carinho

Unknown disse...

Como disse Tati, também quero o endereço, viu?
Ai que cidadezinha gostosa!
Sentar na pracinha no fim de tarde, observando o movimento sem pressa de ir a lugar algum...um sonho...

Daniel Savio disse...

E cada canto da cidade esconde uma nova história...

Fique com Deus, menina Isadora.
Um abraço.

Hod disse...

" Tempo bom, não volta mais, saudade tanto tempo faz.."" Lilico.

Tanto mudou que a cidade passou para outra realidade.

Excelente texto Isadora, que eventos estás guardando para os próximos dias?

Beijo pra vc.

pensandoemfamilia disse...

Parece com a época da minha infância e não era na cidade pequena, mas tinhamos esta simplicidade e intimidade. Bons tempos....Hora da saudade.
bjs

Madame Mim disse...

Isa, lindo seu texto!
Concordo com os demais, acho que tem muita história para contar de cada um, porque não?
Vc escreve de forma le e quando a gente viu já está no final e com certeza quer mais...
Cadê?
Bjs
Espero que se empolgue para continuar...
Boa semana e fica em paz!

Vaneza S. disse...

Bem sei o que é uma cidade pequena... todos os seus prazeres e... porque não dizer... seus desprazeres.

Vim de lá do blog da Andrea te conhecer... e te prestigiar.

AbraçozZz

Caca disse...

Isadora, passei boa parte de minha vida morando no interior (aliás sou nascido no interior). Voltava para lá, depois vinha para a capital e vice-versa. Até hoje eu possuo uns hábitos que fico querendo transmitir aqui na selva de pedra, como generosidade, tolerância, amizade, mas aqui é tão difícil... Adorei sua crônica! Meu abraço. Paz e bem.

C@uros@ disse...

Olá querida Isadora, que saudade de tempos passandos, não muito distantes, a vida caminhava lenta e feliz.Parabéns pelo belo texto.

forte abraço

C@urosa

Sandra Gonçalves disse...

Ah que texto maravilhoso.
parabens viu?
Bjos achocolatados

Lis. disse...

Concordo, é um bom texto carioca, daqueles tempos onde o que valia era o tal fio do bigode. Algo que nos dias de atuais está fora de moda.

Pensando nesse saudosismo, também estou escrevendo sobre o amor de antigamente. Porque saudade não tem idade e vale a pena ver de novo.

Saudações.

Ivy disse...

Amiga, vc me levou de volta à minha infância, às férias no interior como eram boas... Ahhhh, saudade!!!

Bjs, amiga, e obrigada!

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Isadora
Voltei.
As férias estavam ótimas, mas a saudade era grande.
Beijos

Luck! disse...

Defato, aquelas cidades velhas, onde o tempo nunca passa...
Parecem que as pessoas são as mesmas, conservadoras, e bondosas, e humildes...
=D

lis disse...

Isadora
cidade pequena dá tantas histórias nao é?
e é tão bom passar uns dias por lá , uma gente diferente dos da cidade, mais calmos, amigos , sabem da vidinha uns dos outros ( até mais do que devia rsrs) , muito interessante.
Sempre tem esse riozinho numa cidadezinha do interior, a minha tem lá o meu rio.
adorei o conto, viajei por lá com os personagens.
deixo abraços e um bom dia

welze disse...

que delícia viajar nas suas palavras. valeu o dia, a semana!

orvalho do ceu disse...

Olá, amiga
Gostei muito do seu post, amo cidades pequenas. Tem um quê de simplicidade inigualável.
Bjs na alma e serenidade.

Beth/Lilás disse...

Isa, que delícia de texto!
Me transportei com as palavras para um bairro do Rio onde morei quando criança - a vida era assim também nos subúrbios cariocas, cheios de famílias de portugueses, italianos, brasileiros de boa índole e educação de berço.
Parabéns, você já tem muitos leitores para seu novo livro!
bjs cariocas