Bom, estava pensando em um post sobre A Terra do Nunca. Queria descrever a minha Terra do Nunca, pois acredito que dentro de cada um de nós existe uma. O lugar sagrado, onde nos refugiamos, nos momentos difíceis.
Ao fazer uma busca sobre a história do Peter Pan, para me inspirar, eis que me deparo com o texto abaixo. Uma pérola. Aquele texto que ao acabarmos de ler ficamos pensando: como eu gostaria de ter escrito isso.
Deixo para vocês o texto abaixo e logo no post abaixo, mais uma pérola encontrada no mesmo blog: Sinais (vejam, pois é lindo).
Recomendo aos que gostam de uma boa leitura o blog: entremares.
O post sobre a minha Terra do Nunca fica para um outro dia.
" Pequenina, de asas graciosas e quase transparentes como todas as fadas, esvoaçando sobre os campos de flores. Seria o seu vestido, amarelo como os girassóis? Seriam os sapatinhos de verniz, a imitar as conchas do mar?
Chamava-se Nyota… e nascera muito longe dali, num continente quente e povoado de grandes florestas, lagos e desertos, e animais tão estranhos que ela não voltara a encontrar iguais, em mais parte alguma.Nem na terra do Nunca.
E aquele dia, na terra do Nunca, ia ser um dia... muito especial; Peter Pan, o eterno menino vestido de verde, como príncipe dos bosques e senhor das terras do arco-iris... ia anunciar o seu noivado.
Ninguém ignorava que Sininho sempre fora a fada de Peter Pan – a história descrevera-a assim, eternamente apaixonada pelo irrequieto menino que se recusava a crescer. Mas o que não estava escrito na história.. e que quase ninguém sabia... era o amor que Peter Pan e Nyota nutriam um pelo outro, desde que se haviam visto pela primeira vez, numa tarde de verão.
Nyota era divertida, uma óptima contadora de histórias... e sempre que podiam, desapareciam os dois rumo ao alto dos bosques. E ali, no silêncio dos pássaros e no murmúrio dos ventos... Nyota contava-lhe histórias de uma terra distante, em que os meninos rodeavam dançavam à volta de fogueiras, caçavam animais de cores bizarras e saltavam de árvore em árvore, pendurados dos ramos.
Peter Pan bebia-lhe o olhar, cheio de imagens, imaginando-se a ele próprio naquela terra estranha e longínqua, onde todos os meninos tinham uma cor de pele tão diferente da sua... e que Nyota descrevia como sendo tão bela como a terra do Nunca.
- Mas não há nenhuma terra mais bela que a terra do Nunca... – protestava Peter Pan, sempre que ela lhe tocava no assunto. – não pode haver...
- Mas é claro que há... e prometo-te que um dia... ainda te levarei lá...
E assim ela ali permanecia, inebriada por um simples olhar, enquanto ele adormecia, à sombra dos plátanos, sonhando com oásis de palmeiras no meio de desertos, tempestades de areia e longas pradarias de ervas altas e manadas de animais estranhos, a perder de vista...
Quando Peter Pan entrou na sala, as fadas interromperam a ladainha de sussuros. No silêncio frio do mármore, o único ruido provinha das botas de Peter, dirigindo-se ligeiro até a um dos extremos do grande salão. Sem cerimónia, saltou para cima de uma das mesas, distribuindo aquele seu olhar atrevido em redor.
Discretamente, Sininho aproximou-se também do local – queria estar bem ao seu lado, mal ele pronunciasse o seu nome.
- Meus amigos... como todos sabeis... está escrito que Peter Pan irá escolher uma fada da terra do Nunca... para juntos ajudarmos a cuidar de todos os habitantes ...
Fez uma longa pausa, enquanto dirigia o olhar para Sininho, ali bem perto de si.
- ... E todos vós já me conheceis há tanto tempo... e conheceis tão bem como eu a história da terra do Nunca, não é verdade? – e esticou o braço em direcção a Sininho - ... queres vir aqui fazer-me companhia... Sininho?
Palmas, muitas palmas, ainda mais suspiros.
No outro extremo do salão, um lamento passou quase despercebido.
Nyota, as mãos a tapar os olhos, saiu de mansinho para o jardim.
Peter Pan, do alto da mesa que lhe servira de tribuna, conseguia vê-la.
- Sininho... dás-me só um segundo, por favor? tenho só que ir ali falar com uma pessoa... é só um segundo...
A fada Sininho fez-lhe uma vénia irónica, com um sorriso de felicidade.
- Claro que sim, meu príncipe... claro que sim... mas não te demores...
Peter Pan apressou o passo, distribuindo sorrisos, beijos e abraços. Precisava de alcançar a porta do jardim.
- Nyota! Nyota!
Correu para ela.
- Nyota... espera, por favor...
Ela abriu a porta exterior do jardim. Quando se voltou, uma lágrima brilhante deslizava-lhe pelo rosto.
- O que queres, Peter?
- Nyota... meu amor... por favor, tens que compreender... estava escrito...
- Eu não sou o teu amor, Peter...
- Mas, Nyota... estava escrito... eu tenho que escolher a Sininho...
- Julguei que me amavas, Peter...
- E amo, Nyota, mais que tudo... mas que mais podia eu fazer? Está escrito ... na minha história... que eu tenho que escolher a Sininho... não posso evitá-lo...
Nyota olhou-o nos olhos e lá no fundo sentiu-se de novo a criança desprotegida, ansiando por um abraço, por uma palavra meiga.
- Eu também te adoro, Peter Pan... e isso não está escrito em nenhuma história, sabes? E se tu gostasses realmente de mim...
- Nyota, mas eu não posso...
- Peter... sabes porque não podes ?
- ...
- Não podes porque... até aqui não consegues deixar de ser ... uma criança...
- Nyota...
- Não, Peter... eu sei de tudo o que me vais dizer, mas... hoje e aqui... eu precisava que tu crescesses... nem que fosse só um pouquinho... que tivesses desafiado a história que escreveram para ti ... e me escolhesses...
Abriu o portão e seguiu em frente, o vestido amarelo como os girassóis a brilhar na noite escura. Desejava ardentemente que ele a chamasse.
Bastaria que a chamasse uma única vez... e ela voltaria a correr para os seus braços.
Mas sabia perfeitamente que tal nunca iria acontecer..."
(Rolando Palma- http://www.entremares-entremares.blogspot.com)
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